Os desafios de Míchel no Getafe

Com passagem pelo clube entre abril de 2009 e junho de 2011, Míchel reencontra o Getafe em uma difícil missão de substituir o excelente Pepe Bordalás

Depois de grandes temporadas sob o comando de Pepe Bordalás, o Getafe tem pela frente uma longa caminhada para superar a saída do seu antigo técnico. Para isso, Míchel tem a difícil missão de compensar a perda de uma maneira que a paciência se torna o principal ponto para que o trabalho siga num bom caminho.

O primeiro passo é entender o nível que Pepe colocava em campo com um elenco tão abaixo se compararmos com outros elencos da liga. Entendendo isso, é mais compreensível desprender da ideia de que o trabalho de Míchel será fácil.

Ainda que Bordalás tenha tido tempos gloriosos no clube, os problemas vieram com o começo da pandemia, mudanças no elenco não entregaram como se imaginava e essa desilusão acabou deixando a ideia de um fim de ciclo. Há algum tempo o treinador já era cortejado pelo Valencia – recusou uma proposta no verão passado.

Mesmo que as expectativas em manter o que Pepe construiu desde 2016 sejam altas, o elenco perdeu peças que foram importantes e potencializadas pelo treinador. Por outro lado, ganhou jovens com certo potencial para alavancar esse melhor Getafe e quem sabe trazer retorno financeiro suficiente para que o clube continue crescendo nos próximos anos.

Agora nas mãos de Míchel, o Getafe procura se reencontrar para se manter no nível (ou pelo menos chegar perto) de 2017 até o início de 2020. Da primeira passagem do treinador pelo clube até 2021 muita coisa mudou – Míchel foi técnico do Getafe entre 2009 e 2011 –, mas uma boa relação deve manter algumas situações sob controle.

Demitido em 2011 após um 16º lugar, Míchel teve 39 vitórias, 22 empates e 40 derrotas em sua primeira passagem como treinador do Getafe. (Reprodução/Getafe FC)

NOVO ESQUEMA E UM SISTEMA DIFERENTE

Na pré-temporada o novo treinador já demonstrou uma maior versatilidade entre o 4-4-2 — utilizado por Bordalás em grande parte do seu trabalho — e o 4-3-3 muitas vezes espaçado como um 4-2-3-1. Por outro lado, enfrentando o Valencia na primeira rodada utilizou, inicialmente, três zagueiros, alas pelos lados formando uma linha com mais três meias e na frente dois atacantes centralizados. Com o desenrolar do jogo e precisando ir em busca do empate, fez algumas mudanças no sistema. Já contra o Sevilla na segunda rodada foi com o clássico 4-4-2, conhecido desde os tempos de Bordalás.

De cara não temos um favorito, talvez até o fim da temporada não teremos, mas é fato que Míchel quer testar ao máximo seus jogadores em diversas funções dentro de um sistema. A manutenção menos necessária hoje é o meio-campo, que na última temporada foi o que manteve o Getafe mais equilibrado e foi fundamental para a permanência na elite.

O sistema defensivo é o que precisa ser fidelizado. O ataque sempre foi um ponto forte nos anos de Bordalás, pois a equipe definia as partidas em um aproveitamento excelente e numa eficiência absurda. Apesar disso tudo, a defesa também ajudou durante a última temporada, quando esse ataque forte não entregava da mesma forma mais.

Se tem algo para se manter é esse conjunto coeso e competente na busca de eliminar qualquer espaço para que o adversário ataque. A busca pelos três zagueiros talvez explique essa preocupação de Míchel em manter a defesa como o principal poderio da equipe em busca da permanência na primeira divisão.

OS PRINCIPAIS TALENTOS DA EQUIPE: JOVENS JOGADORES, VETERANOS E NOVAS CONTRATAÇÕES

Depois de uma última temporada difícil, seria ótimo seguir nesse mesmo conceito de uma equipe compacta e alinhada no seu campo de defesa – apesar das derrotas contra Valencia e Sevilla vimos um pouco disso em prática. Concentrar Djené e Cabaco para proteger a área é o natural naquilo que eles oferecem de melhor. E ainda que isso mude no futuro com a opção de Stefan Mitrovic, contratação nova para a temporada, a proteção da área segue sendo outro fator básico para o sistema defensivo.

O sérvio foi titular contra o Sevilla, ajudou na construção desde a base e segue sendo uma opção para a zaga titular. (Reprodução/EPA/Zipi)

A ideia de potencializar seus melhores talentos nesse tempo é o que deve acabar acontecendo, na espera do coletivo se ajustar conforme as semanas forem passando, os jogos acontecendo, e nessa o individual deve tomar conta enquanto isso.

De cara temos a venda de Cucurella para o Brighton, o grande pesar dessa janela. Independente do sistema, o jovem espanhol era o mais talentoso do elenco e mesmo que ainda lide com um teto alto já entregava em alto nível. Os €18 milhões da sua cláusula irão ajudar a equipe financeiramente, mas preocupa como será a reposição (se tiver) de um talento como o dele.

As opções de ataque com Bordalás sempre foram jogadores experientes que despontaram mais tarde no futebol. No último ano o clube trabalhou para renovar isso e inserir jogadores mais jovens com potencial em busca dessa evolução rentável dentro e fora de campo. Alguns nomes como Enes Unal, José Macías e Hugo Duro são interessantíssimos visando talento e potencial.

O turco não era 100% titular na última temporada, mas entregou gols fundamentais durante a briga para não cair e cresceu bastante na primeira parte de 2021. A sensação que fica é que Unal irá contribuir ainda mais neste próximo ano e mostrando tudo para despontar de vez como principal peça ofensiva ao lado dos outros dois citados acima, Jaime Mata – uma liderança ofensiva – e Sandro Ramirez, que vem em busca de redenção no futebol espanhol depois de ter se destacado com o Míchel ainda no Málaga em 2016 mas perdido força após a saída do Everton em 2018.

A manutenção no meio-campo passa pelos melhores jogadores da equipe, peças que já vinham sendo unânimes durante a 2020/21. Míchel tem uma missão fácil nesse setor. Nemanja Maksimovic e Mauro Arambarri são dois dos melhores da posição na La Liga hoje e entregam um nível que o Getafe precisa e carece para competir. Na abertura do campeonato e no confronto contra o Sevilla já podemos ver que o nível de ambos se mantém e que isso será significativo – apesar da derrota contra a equipe de Lopetegui, ambos fizeram um excelente jogo para anular as ações ofensivas dos adversários, dificultando o setor criativo que é o grande ponto forte da equipe.

Os lados do campo precisam ser alimentados também, muito em função dos atacantes centrais, que estão à disposição de movimentos orientados e oferecerem profundidade para a equipe no último terço. Alguém mais incisivo, Vitolo pode ser esse jogador. Mesmo com uma passagem abaixo no Atleti, o espanhol busca recuperar o bom nível que demonstrou nos tempos de Sevilla e, como um grande veterano, pode ajudar a equipe na busca de consistência e regularidade num campeonato tão intenso como a La Liga.

Contratação de peso, Jankto custou 6 milhões aos cofres do Getafe e tende a ser peça importante para a temporada. Pensando tanto na reposição para os titulares já estabelecidos no meio-campo, como também uma alternativa para funções mais diretas no ataque – seja pelo lado ou como um clássico ‘camisa 10’ pela criatividade ser sua principal virtude.

Por fim, mas não menos importante, é primordial que Míchel consagre Carles Aleñá de vez. Depois de ser emprestado pelo Barcelona, o canhoto foi comprado pelo Getafe neste verão. Em 2021 foi ótimo nos seus seis primeiros meses, funcional no último terço como o último passador rodando a grande área. Na atual, já temos em mente que será o jogador amparado por Maksimovic e Arambarri, a depender das escolhas de Míchel no campeonato, e que também pode ser uma opção pelos lados como desempenhou nesses dois primeiros jogos contra Valencia e Sevilla – geralmente em ações com o lateral que avança, seja Mathias Oliveira ou Damián Suárez.

Compartilhe

Comente!

Tem algo a dizer?

Últimas Postagens

FILIPE LUÍS NO FLAMENGO: ESTRATEGISTA E CAMPEÃO DA COPA DO BRASIL

FILIPE LUÍS NO FLAMENGO: ESTRATEGISTA E CAMPEÃO DA COPA DO BRASIL

André Andrade
ANÁLISE: FLAMENGO X ATLÉTICO-MG NA FINAL DA COPA DO BRASIL – CONFRONTO DE IDA

ANÁLISE: FLAMENGO X ATLÉTICO-MG NA FINAL DA COPA DO BRASIL - CONFRONTO DE IDA

André Andrade
AS TENDÊNCIAS E MUDANÇAS TÁTICAS NO CAMPEONATO BRASILEIRO

AS TENDÊNCIAS E MUDANÇAS TÁTICAS NO CAMPEONATO BRASILEIRO

Douglas Batista
O PROTAGONISMO DE BRAITHWAITE NO GRÊMIO

O PROTAGONISMO DE BRAITHWAITE NO GRÊMIO

Lucas Goulart
OS PONTOS DE EVOLUÇÃO DA SELEÇÃO BRASILEIRA

OS PONTOS DE EVOLUÇÃO DA SELEÇÃO BRASILEIRA

André Andrade
AS FUNÇÕES DENTRO DE UM CAMPO DE FUTEBOL – Análise do futebol Brasileiro

AS FUNÇÕES DENTRO DE UM CAMPO DE FUTEBOL - Análise do futebol Brasileiro

Douglas Batista
Prévia: Os destaques da final do Brasileiro Sub-20

Prévia: Os destaques da final do Brasileiro Sub-20

André Andrade
O impacto de Léo Ortiz atuando como volante no Flamengo

O impacto de Léo Ortiz atuando como volante no Flamengo

Lucas Goulart
Riccardo Calafiori: O defensor destaque na Itália que chega ao Arsenal

Riccardo Calafiori: O defensor destaque na Itália que chega ao Arsenal

André Andrade
Análise de Vitinho: o novo lateral-direito do Botafogo

Análise de Vitinho: o novo lateral-direito do Botafogo

Lucas Goulart
OS DESTAQUES DA PRIMEIRA FASE DO BRASILEIRO SUB-20

OS DESTAQUES DA PRIMEIRA FASE DO BRASILEIRO SUB-20

André Andrade
PALMEIRAS X BOTAFOGO: AS NUANCES DO DUELO DECISIVO

PALMEIRAS X BOTAFOGO: AS NUANCES DO DUELO DECISIVO

Douglas Batista
O trabalho de Fernando Seabra no Cruzeiro

O trabalho de Fernando Seabra no Cruzeiro

Lucas Goulart
Como saem os gols dos artilheiros do Brasileirão

Como saem os gols dos artilheiros do Brasileirão

Douglas Batista
A prospecção do Grêmio ao mercado Sul-Americano

A prospecção do Grêmio ao mercado Sul-Americano

Lucas Goulart