Por que o CSA pode permanecer na Série A
Sob o comando de Argel Fucks, a equipe alagoana tem conquistado bons resultados no Brasileirão, que dão esperanças para uma possível manutenção na primeira divisão
O roteiro do rebaixamento do CSA estava escrito antes mesmo do início do Campeonato Brasileiro de 2019. Aliada à incapacidade de Marcelo Cabo em fazer o time render, a duvidosa montagem do elenco foi exposta nas primeiras rodadas do torneio — com uma vitória em 14 jogos — , e parecia não apresentar margem para evoluções. Apesar do mau início, o técnico Argel Fucks contrariou a lógica, e tem reacendido a esperança do torcedor azulino a cada gota de suor derrubada pela equipe.
Ao longo de sua carreira, o treinador gaúcho ganhou o rótulo de “motivador”, e basta assistir a um jogo do CSA para entender o porquê. Não que o time atue somente na base da vontade e conquiste seus resultados unicamente por isso, até porque o Campeonato Brasileiro não é um torneio interclasses. Entretanto, a intensidade que o modelo proposto por Argel necessita é vista dentro de campo, e os méritos da equipe conversam diretamente com ela.
O encaixe é bastante evidente em partidas no Rei Pelé. Mesmo sendo o segundo mandante que menos chuta a gol (12,2 finalizações/jogo) e o 19º em posse de bola (44%), o time venceu cinco dos últimos sete jogos do Brasileiro em casa. Não é um futebol envolvente, mas funciona e é consistente. Derrotado no meio da última semana, o Corinthians que o diga.
Claro, a equipe treinada por Carille está em uma crise técnica — mas isso não pode tirar os méritos do CSA. O mandante se impôs fisicamente e, com ataques diretos, causou problemas para o adversário. Contra o Flamengo, apesar da derrota, o time também deu trabalho. E assim têm sido os últimos jogos do Azulão: recomposição rápida, organização defensiva com blocos baixos e compactos, velocidade ao retomar a bola e ataques diretos, com não mais que cinco jogadores, finalizados em poucos segundos.
A postura defensiva, aliás, tornou o time competitivo. Nos últimos sete jogos em casa, foram cinco gols sofridos. Mesmo sob seus domínios, o CSA não costuma pressionar alto e, com o maior número possível de jogadores atrás da bola, dificulta as ações do visitante. Desde que Argel assumiu, o time jamais perdeu após sair na frente (nas seis partidas que marcou o primeiro gol, venceu quatro e cedeu o empate em duas), o que comprova a capacidade da equipe de proteger a própria meta.
O CORINGA
Jonathan Gómez, Ricardo Bueno e Carlinhos são alguns dos bons jogadores da equipe alagoana no Brasileirão. No entanto, é Apodi quem melhor resume as ideias de Argel, que têm se provado efetivas em mais momentos do que o esperado. Mesmo sem ser um primor técnico, o jogador de 32 anos se tornou uma das armas da equipe. Como um verdadeiro coringa, atuando em diversas posições, ele tem colaborado com gols e assistências ao ser o escape para os rápidos contra-ataques do time.
Quando retomam a bola, os jogadores alviazuis sempre levam o olhar a Apodi. Recebendo passes na profundidade, o polivalente jogador costuma acelerar os ataques do time com conduções, raramente buscando aproximações e toques rápidos. Isso faz com que o time ataque com menos jogadores, mas, ao mesmo tempo, não permita a plena recomposição defensiva do adversário.
Ao longo de todo o campeonato, Apodi já atuou como lateral direito, extremo pela esquerda e pela direita, em um 4-2-3-1, e até como um interior, num 4-3-3. Sua versatilidade permite que Argel encaixe a marcação em relação ao adversário e conte, sempre, com a sua velocidade. Quando o rival possui laterais fortes no apoio, é ele o encarregado de persegui-los. Foi assim com Fagner e Rafinha, por exemplo, em duas ótimas (e intensas) atuações defensivas do jogador.
É possível resumir seu jogo em números. Apodi acerta, com uma precisão de 75%, 13 passes por partida. Como ele tem liberdade para conduzir a bola, o número baixo faz bastante sentido — bem como o alto valor de perdas de bola (9 por jogo). É um jogador direto, com a cara do treinador, e que tem sido bastante útil para a equipe em cenários de transição.
VAI DAR?
Argel assumiu a equipe na décima rodada. Desde então, o aproveitamento no Rei Pelé é de 60% — são cinco vitórias, três empates e duas derrotas em dez jogos. Não é o melhor dos retrospectos, mas, ao mesmo tempo, não parece o histórico de um time fadado ao rebaixamento desde o início do campeonato. Com 29 pontos, o time está a uma vitória do Cruzeiro, 16º colocado.
Argel e seus comandados (ou soldados, como ele gosta de se referir) rasgaram aquele roteiro do início. Fazem um segundo turno honroso, melhor que o de equipes como Bahia, Corinthians e Internacional. A tarefa ainda é difícil. No entanto, ela já parece alcançável, e os confrontos diretos nas rodadas finais serão essenciais para isso.
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