Por que o CSA pode permanecer na Série A

Sob o comando de Argel Fucks, a equipe alagoana tem conquistado bons resultados no Brasileirão, que dão esperanças para uma possível manutenção na primeira divisão

O roteiro do rebaixamento do CSA estava escrito antes mesmo do início do Campeonato Brasileiro de 2019. Aliada à incapacidade de Marcelo Cabo em fazer o time render, a duvidosa montagem do elenco foi exposta nas primeiras rodadas do torneio — com uma vitória em 14 jogos — , e parecia não apresentar margem para evoluções. Apesar do mau início, o técnico Argel Fucks contrariou a lógica, e tem reacendido a esperança do torcedor azulino a cada gota de suor derrubada pela equipe.

Ao longo de sua carreira, o treinador gaúcho ganhou o rótulo de “motivador”, e basta assistir a um jogo do CSA para entender o porquê. Não que o time atue somente na base da vontade e conquiste seus resultados unicamente por isso, até porque o Campeonato Brasileiro não é um torneio interclasses. Entretanto, a intensidade que o modelo proposto por Argel necessita é vista dentro de campo, e os méritos da equipe conversam diretamente com ela.

Argel livrou o Vitória do descenso em 2016 (Foto: Matheus Pimenta/Ascom CSA)

O encaixe é bastante evidente em partidas no Rei Pelé. Mesmo sendo o segundo mandante que menos chuta a gol (12,2 finalizações/jogo) e o 19º em posse de bola (44%), o time venceu cinco dos últimos sete jogos do Brasileiro em casa. Não é um futebol envolvente, mas funciona e é consistente. Derrotado no meio da última semana, o Corinthians que o diga.

Claro, a equipe treinada por Carille está em uma crise técnica — mas isso não pode tirar os méritos do CSA. O mandante se impôs fisicamente e, com ataques diretos, causou problemas para o adversário. Contra o Flamengo, apesar da derrota, o time também deu trabalho. E assim têm sido os últimos jogos do Azulão: recomposição rápida, organização defensiva com blocos baixos e compactos, velocidade ao retomar a bola e ataques diretos, com não mais que cinco jogadores, finalizados em poucos segundos.

A postura defensiva, aliás, tornou o time competitivo. Nos últimos sete jogos em casa, foram cinco gols sofridos. Mesmo sob seus domínios, o CSA não costuma pressionar alto e, com o maior número possível de jogadores atrás da bola, dificulta as ações do visitante. Desde que Argel assumiu, o time jamais perdeu após sair na frente (nas seis partidas que marcou o primeiro gol, venceu quatro e cedeu o empate em duas), o que comprova a capacidade da equipe de proteger a própria meta.

O CORINGA 

Jonathan Gómez, Ricardo Bueno e Carlinhos são alguns dos bons jogadores da equipe alagoana no Brasileirão. No entanto, é Apodi quem melhor resume as ideias de Argel, que têm se provado efetivas em mais momentos do que o esperado. Mesmo sem ser um primor técnico, o jogador de 32 anos se tornou uma das armas da equipe. Como um verdadeiro coringa, atuando em diversas posições, ele tem colaborado com gols e assistências ao ser o escape para os rápidos contra-ataques do time.

https://streamable.com/sglqm
Movimentações chaves da Flecha Azulina na partida diante do Corinthians

Quando retomam a bola, os jogadores alviazuis sempre levam o olhar a Apodi. Recebendo passes na profundidade, o polivalente jogador costuma acelerar os ataques do time com conduções, raramente buscando aproximações e toques rápidos. Isso faz com que o time ataque com menos jogadores, mas, ao mesmo tempo, não permita a plena recomposição defensiva do adversário.

Ao longo de todo o campeonato, Apodi já atuou como lateral direito, extremo pela esquerda e pela direita, em um 4-2-3-1, e até como um interior, num 4-3-3. Sua versatilidade permite que Argel encaixe a marcação em relação ao adversário e conte, sempre, com a sua velocidade. Quando o rival possui laterais fortes no apoio, é ele o encarregado de persegui-los. Foi assim com Fagner e Rafinha, por exemplo, em duas ótimas (e intensas) atuações defensivas do jogador.

Polivalência (Foto: Francisco Cedrim/RCortez/CSA)

É possível resumir seu jogo em números. Apodi acerta, com uma precisão de 75%, 13 passes por partida. Como ele tem liberdade para conduzir a bola, o número baixo faz bastante sentido — bem como o alto valor de perdas de bola (9 por jogo). É um jogador direto, com a cara do treinador, e que tem sido bastante útil para a equipe em cenários de transição. 

VAI DAR?

Argel assumiu a equipe na décima rodada. Desde então, o aproveitamento no Rei Pelé é de 60% — são cinco vitórias, três empates e duas derrotas em dez jogos. Não é o melhor dos retrospectos, mas, ao mesmo tempo, não parece o histórico de um time fadado ao rebaixamento desde o início do campeonato. Com 29 pontos, o time está a uma vitória do Cruzeiro, 16º colocado. 

Argel e seus comandados (ou soldados, como ele gosta de se referir) rasgaram aquele roteiro do início. Fazem um segundo turno honroso, melhor que o de equipes como Bahia, Corinthians e Internacional. A tarefa ainda é difícil. No entanto, ela já parece alcançável, e os confrontos diretos nas rodadas finais serão essenciais para isso.

Compartilhe

Comente!

Tem algo a dizer?

Últimas Postagens

FILIPE LUÍS NO FLAMENGO: ESTRATEGISTA E CAMPEÃO DA COPA DO BRASIL

FILIPE LUÍS NO FLAMENGO: ESTRATEGISTA E CAMPEÃO DA COPA DO BRASIL

André Andrade
ANÁLISE: FLAMENGO X ATLÉTICO-MG NA FINAL DA COPA DO BRASIL – CONFRONTO DE IDA

ANÁLISE: FLAMENGO X ATLÉTICO-MG NA FINAL DA COPA DO BRASIL - CONFRONTO DE IDA

André Andrade
AS TENDÊNCIAS E MUDANÇAS TÁTICAS NO CAMPEONATO BRASILEIRO

AS TENDÊNCIAS E MUDANÇAS TÁTICAS NO CAMPEONATO BRASILEIRO

Douglas Batista
O PROTAGONISMO DE BRAITHWAITE NO GRÊMIO

O PROTAGONISMO DE BRAITHWAITE NO GRÊMIO

Lucas Goulart
OS PONTOS DE EVOLUÇÃO DA SELEÇÃO BRASILEIRA

OS PONTOS DE EVOLUÇÃO DA SELEÇÃO BRASILEIRA

André Andrade
AS FUNÇÕES DENTRO DE UM CAMPO DE FUTEBOL – Análise do futebol Brasileiro

AS FUNÇÕES DENTRO DE UM CAMPO DE FUTEBOL - Análise do futebol Brasileiro

Douglas Batista
Prévia: Os destaques da final do Brasileiro Sub-20

Prévia: Os destaques da final do Brasileiro Sub-20

André Andrade
O impacto de Léo Ortiz atuando como volante no Flamengo

O impacto de Léo Ortiz atuando como volante no Flamengo

Lucas Goulart
Riccardo Calafiori: O defensor destaque na Itália que chega ao Arsenal

Riccardo Calafiori: O defensor destaque na Itália que chega ao Arsenal

André Andrade
Análise de Vitinho: o novo lateral-direito do Botafogo

Análise de Vitinho: o novo lateral-direito do Botafogo

Lucas Goulart
OS DESTAQUES DA PRIMEIRA FASE DO BRASILEIRO SUB-20

OS DESTAQUES DA PRIMEIRA FASE DO BRASILEIRO SUB-20

André Andrade
PALMEIRAS X BOTAFOGO: AS NUANCES DO DUELO DECISIVO

PALMEIRAS X BOTAFOGO: AS NUANCES DO DUELO DECISIVO

Douglas Batista
O trabalho de Fernando Seabra no Cruzeiro

O trabalho de Fernando Seabra no Cruzeiro

Lucas Goulart
Como saem os gols dos artilheiros do Brasileirão

Como saem os gols dos artilheiros do Brasileirão

Douglas Batista
A prospecção do Grêmio ao mercado Sul-Americano

A prospecção do Grêmio ao mercado Sul-Americano

Lucas Goulart