Qual é o impacto da quarentena na preparação física dos times da Premier League?
Na volta aos treinos, como os clubes vão trabalhar a preparação física e colocar os atletas em condição de jogo em um cenário tão diferente?
Aos poucos, a normalidade vai retornando na Inglaterra. Nos clubes da Premier League, a semana foi de volta aos treinos, enquanto a previsão do reinício da competição passou para o dia 19 de junho. Assim como os jogos eventualmente serão em cenários bem diferentes – como já observamos na Bundesliga -, as atividades preparatórias do dia a dia também serão impactadas. Separei alguns pontos interessantes sobre preparação física que surgem neste momento.
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Pra começar, quantas semanas de treino são necessárias antes de partidas competitivas? Para Raheem Sterling, quatro ou cinco. O ponta do Manchester City compartilha da opinião de Steve Bruce, treinador do Newcastle, que disse ao Telegraph: “Precisamos de tempo suficiente de preparação física para que esses jogadores entrem em forma, ou eles vão apenas cair como um pack de cartas.”
É claro que os atletas seguiram uma rotina em casa durante a quarentena, mas é impossível comparar esse período com os exercícios que eles costumam fazer nas estruturas de suas equipes. Principalmente se você partir do ponto de vista que o futebol é um esporte coletivo. Ao contrário de certas modalidades em que o treinamento é estritamente (ou quase) individual, aqui o panorama apresenta a movimentação constante do corpo em relação a companheiros e adversários.
E, claro, ações que não podem ser replicadas com tanta eficiência mesmo se o jogador tiver equipamentos e espaços de primeiro nível. Permanecendo sozinhos por todo esse tempo, faltam os movimentos específicos que acontecem nas partidas. Mudanças rápidas de direção, a adaptabilidade necessária em instantes aleatórios, além do contato direto com outros.
Antigamente, os treinos físicos eram isolados. Então eles realmente precisavam ficar, antes de tudo, em plenas condições físicas puramente falando. Hoje em dia, porém, é tudo interligado; o físico é feito com bola, em situações simuladas de partidas, obrigando o atleta a ficar em plena condição física para o jogo. E os staffs terão pouco tempo para trabalhar isso de forma ideal antes de um possível retorno.
Dentro desse panorama, deve fazer diferença a estratégia que cada time desenvolveu para o seu elenco lá no início da quarentena. Levando em conta que ninguém sabia até quando isso ia durar – nem mesmo as autoridades de saúde -, é plausível que distintas fórmulas foram adotadas. Alguns podem ter aproveitado o momento para dar um descanso prolongado ao plantel, com exigências mais leves e visando o longo prazo.
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Outros, porém, podem ter mantido a intensidade para garantir que estariam prontos em caso de uma volta rápida. Foi – e continuará sendo -, sem dúvida, um teste para a habilidade e a visão das comissões técnicas. Esses profissionais costumam basear seus procedimentos em informações e estatísticas muito claras, incluindo projeções, mas a pandemia fez com que isso acabasse. Em meio a tanta incerteza, precisaram tomar decisões importantes.
Agora a questão é encontrar um equilíbrio entre o conservadorismo e a agressividade. Como Sterling e Bruce ressaltaram, as próximas semanas vão servir como uma espécie de pré-temporada, mas o calendário que está pela frente é muito mais brutal do que amistosos marcados justamente para ganhar ritmo de forma gradativa. Estamos falando não apenas de uma rodada, mas sim uma sequência intensa que pode ir até o final de julho (se os torneios continentais voltarem, para alguns até agosto).
A preparação deve ser feita visando o retorno a um confronto competitivo e, depois disso, a recuperação necessária de modo que possibilite a participação em outra partida poucos dias depois. E outra. E mais uma. Até que a campanha seja finalizada. É interessante notar que, sem a preparação física ideal antes da retomada, o atleta pode até render em alto desempenho de imediato, mas ver o risco de lesão aumentar conforme o calendário aperta.
Por outro lado, após alguns jogos o nível técnico das performances deve melhorar, já que teríamos mais tempo de treinamento coletivo. O fato é que não podemos estabelecer um padrão ou generalizar os efeitos que a liga vai nos apresentar. Não deve ser algo linear, mas sim aleatório e dependente da realidade de cada clube. Continuamos no aguardo.
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