Thiago Larghi: “O brasileiro está perdendo a soberba de achar que era quem mais entendia de futebol”
Em entrevista ao Footure, o treinador, com passagens por Atlético-MG e Goiás, analisa a carreira, fala sobre o crescimento do Jogo de Posição no país e revela que pretende voltar à área técnica
Natural de Paraíba do Sul, o carioca Thiago Larghi, 40, iniciou no futebol desde muito cedo. Embora com certa experiência nas categorias de base, rapidamente se despediu dos gramados para focar nos estudos. Formado em Educação Física, visou a carreira no esporte que, anos mais tarde, o faria representar seu país no maior torneio de futebol do mundo. Desenvolvendo softwares e se aprofundando nas evoluções do jogo ao longo das décadas, Larghi, com muita persistência, chamou a atenção do técnico Carlos Alberto Parreira, em 2005, e também de Jairo Santos, então Analista de Desempenho da CBF.
Como treinador, Thiago Larghi surgiu muito rapidamente. Após a experiência como Analista de Desempenho da seleção brasileira na Copa das Confederações, em 2013, e Copa do Mundo, em 2014, além de ter sido auxiliar técnico em clubes como Botafogo (2013), Sport (2016) e Corinthians (2016), foi em fevereiro de 2018, após demitir o técnico Oswaldo de Oliveira, que o Galo decidiu dar-lhe uma oportunidade.
Em 8 meses como treinador da equipe mineira, somou, em 49 jogos, 23 vitórias, 12 empates e 14 derrotas, resultando em um aproveitamento de 55,1%. Para além dos números, o que o colocou em evidência foram as ideias consistentes e ofensivas que encaminharam o time até a Copa Libertadores do ano seguinte, algo que não acontecia desde 2017.
Apesar de ter conquistado bons resultados no primeiro ano da carreira e se colocado entre os mais promissores da geração, Larghi, que fora demitido em outubro de 2018, optou por estudar – dentro e fora do país – e retornar ao cenário nacional em 2020. Inicialmente, sondagens ocorreram, propostas foram recusadas, mas o Goiás foi quem ofereceu melhor projeto. Como resultado, permaneceu no clube esmeraldino por apenas 38 dias (6 jogos, sendo 1 vitória, 2 empates, 3 derrotas e 27,8% de aproveitamento).
De qualquer forma, Thiago Larghi está disposto a assumir um novo trabalho. Ao Footure, em entrevista realizada dia 29 de outubro, o técnico relembrou sua carreira, falou sobre o intercâmbio na Europa e expôs ideias sobre o jogo.
Footure: Como jogador, você parou ainda na base, aos 19 anos. Mesmo abandonando os gramados precocemente, sempre teve uma visão apurada do jogo ou foi algo que conquistou através dos estudos?
Thiago Larghi: Eu tinha não visão de jogo, mas eu tive bons treinadores. Mesmo no interior, mesmo de modo amador, já ensinavam princípios de jogo, já ensinavam formação tática. Lembro muito de a gente jogar no 4-3-3, com os triângulos pelo lado, e me chamava a atenção a questão de disciplina, do quanto era importante ter disciplina, o meu comprometimento, que eu tinha. Acho que o que eu tinha um pouco seria o perfil de liderança. Sempre fui um dos líderes das equipes que eu participei. Tinha voz ativa, atitude, era bastante comprometido com o jogo, com a equipe.
Footure: Quem são as suas referências?
Thiago Larghi: As minhas referências iniciam aqui, no Brasil. Eu ouvi falar muito do Brasil de 1970. A minha infância foi nos anos 80, então eu cresci ouvindo isso. Além disso, para o fim dos anos 80, início dos anos 90, o Milan do Arrigo Sacchi. Tudo o que aquele time representava, passava os jogos aos domingos… E eu fui apelidado de Gullit. Meu apelido era de um dos jogadores do Milan, e aquilo, de alguma forma, sempre mexeu comigo, me colocava para ver mais aqueles jogos. Entendia que ele (Sacchi) fazia um bom time. Apesar de novo, não entendia direito, mas, mais para frente, fui estudar – em 2006, até tive a oportunidade de conhecê-lo, e foi muito bacana.
Também o (Carlos Alberto) Parreira, e aí já mais velho, entendendo bem mais sobre o jogo, a questão do 4-4-2 dele, dessa seleção de 1994. Organização do time, a disciplina tática, a importância de ter um time bem organizado. E, para frente, também o (Pep) Guardiola, já com um futebol mais ofensivo, com qualidade, posse de bola, tentando dominar o jogo sendo protagonista e conseguindo resultados mesmo jogando bem. Outras referências entram, como o Felipão, na questão de gestão, liderança de grupo. É um grande líder. E o Rinus Michels, que eu estudei bastante, o (Johan) Cruyff, que eles fizeram pela Holanda. E um pouco, para falar com quem eu convivi bastante, o Oswaldo de Oliveira, que foi bastante importante. O convívio com ele, a maneira de ele gerir o grupo. Estar no dia a dia com ele por alguns anos foi bastante importante para mim, também.
Footure: Embora como Analista de Desempenho, você teve experiência tanto por clube quanto por seleção. Qual a diferença entre os dois?
Thiago Larghi: No clube, a dinâmica é tudo muito mais rápido. No clube, joga-se muito mais. Domingo e quarta, às vezes é domingo e domingo, mas, com a frequência, são 60 jogos no ano. Na seleção, não, você tem um período muito maior para preparar os jogos, para analisar os adversários, para oferecer o material, e possibilita a gente ter uma análise mais profunda, investigar cada jogador.
Muitas vezes, você não tem uma seleção com um padrão tão claro de jogo, e aí você vai muito para o individual, e isso é bastante importante quando você levanta o jogador no clube, que função que ele faz, que ele pode fazer. Porque, o treinador, na seleção, acaba utilizando o jogador em algumas funções em que é necessário. A dinâmica de seleção é diferente. Ao mesmo tempo, na seleção, o treinador não tem tanto tempo para trabalhar, e aí ele procura explorar melhor as características individuais dos jogadores.
Footure: Pelo que se vê no campo e por declarações anteriores, suas ideias se conectam com o Jogo de Posição, principalmente considerando o que vimos em sua passagem pelo Atlético-MG. O intercâmbio no Barcelona teve a ver com isso?
Thiago Larghi: Eu acho que a gente tem que ser inteligente e utilizar melhor as características dos jogadores que a gente tem à nossa disposição, mas, obviamente, ter boas referências, como o Barcelona e o Guardiola, são referências que nos estimulam a tentar buscar o melhor, estimulam a tentar extrair e pensar as possibilidades que a gente pode ter utilizando os jogadores que a gente tem.
No Atlético, eu tive 8 para 9 meses de trabalho, então foi um tempo bem mais significativo, principalmente a primeira parte, que foi antes da Copa do Mundo, onde a gente conseguiu formar uma equipe bem sólida, que compreendesse bem o jogo, colocar um padrão de jogo bem estabelecido. E o jogador, a partir do momento em que ele vê que dá certo e ele gosta de jogar aquele tipo de jogo, fica fácil convencê-lo a realizar os posicionamentos e executar as funções que a gente pede, porque ele vê que a coisa tem sentido e ele gosta de jogar bem. Gosta, obviamente, de conseguir os resultados. Acontece que, na metade do ano, a gente teve uma troca de cinco jogadores da equipe titular – por motivos de venda ou lesão – e foi difícil de retomar e conseguir dar um mesmo padrão de jogo vindo jogadores novos, de outros lugares, outros clubes, até de outro país. A gente foi claro que dependia de tempo. Eram jogadores de qualidade, mas que a gente não tinha tempo.
No Goiás, o trabalho foi muito inicial, a gente estava bastante no básico, procurando ainda defender em um bloco compacto, ainda procurando estabelecer um jogo mais de transição, em um primeiro momento. Já vínhamos, obviamente, treinando as saídas de bola, treinando as situações de construção, de terço de ataque, mas a gente sabia que não era da noite para o dia que a gente ia mudar comportamento. Por exemplo, no meu primeiro jogo com o Goiás, eu tive apenas dois treinos. O que é possível fazer em dois treinos? É muito difícil de a gente mudar alguma coisa que vinha sendo feito por meses, então a gente estava devagar. Nos últimos três jogos, a gente vinha de três jogos sem derrota, três jogos pontuando. Vencemos o Inter, que, na época, era o líder do Brasileiro, na ocasião, e depois empatamos com o Ceará, fora, em Fortaleza, mas, mesmo assim, a diretoria entendeu que era o momento de trocar.
Footure: É sabido que você foi sondado e chegou a recusar determinadas propostas antes de assumir o Goiás. Por que ficou tanto tempo longe do futebol e por que aceitou o Goiás?
Thiago Larghi: De fato, aconteceram algumas propostas, sondagens, durante o período. No início, após a saída do Atlético, eu estava determinado que eu ia estudar, somente, naquele final de ano. Aconteceram, como eu falei, alguns convites ou inícios de conversas, mas, junto com o meu representante, na época, a gente entendeu que não era a ocasião e que valia a pena esperar.
Já em 2020, durante a pandemia, em agosto, houve essa possibilidade do Goiás, em que a gente viu que era um time jovem, um clube que tem uma estrutura, um clube que a gente entendia, pelo histórico, que era estável politicamente. Mas, após a nossa chegada no clube, a gente viu que não era bem assim. A gente viu que o clube estava passando por um momento de mudança política, e isso estava refletindo bastante na organização como um todo. Isso aí, infelizmente, dificultou o trabalho, e a gente viu que foi um trabalho descontinuado.
Footure: Está pronto para assumir algum trabalho?
Thiago Larghi: Sigo pronto, sigo preparado, agora mais do que nunca. Essa volta ao Goiás foi para, justamente, voltar ao cenário. A gente sabia que também precisava colocar o nosso trabalho à mostra, e a gente entende que o que a gente fez foi, realmente, uma dedicação exclusiva para o clube, porque vinha pegando um clube que estava desequilibrado em diversos pontos – físico, técnico, tático, mental. A gente se dedicou muito para tentar entregar o melhor para o Goiás, que é um grande clube, tem uma torcida bastante importante no cenário nacional. Desde aquele momento que foi decidida essa volta, eu entendo que estou preparado, bastante motivado para voltar a trabalhar.
Footure: Em entrevista ao “Bem, Amigos!”, Eduardo Coudet disse que o trabalho mais difícil do treinador é convencer o atleta. Como fazê-lo?
Thiago Larghi: Eu entendo que o principal é você mostrar para o jogador o quanto ele pode progredir com aquilo que você está propondo, o quanto aquilo pode ser benéfico para ele, benéfico para a equipe. Primeiramente, ele vê o desempenho acontecer. A partir do desempenho acontecendo, ele vê o resultado como consequência do desempenho, e isso, na minha maneira de ver, é algo que consolida o que, para ele, é concreto. Ele se posiciona daquela maneira, ele executa daquela maneira, e vai entendendo melhor o jogo, o que facilita a sua vida dentro do campo, porque tudo o que a gente quer, hoje em dia, é facilitar o trabalho do jogador. Quando a gente consegue passar para ele que aquele é o melhor movimento dentro da equipe, ele compra a ideia, ele é convencido e a coisa passa a ser dele, ele passa a querer fazer aquele tipo de comportamento, de atitude e de ação dentro do campo. Eu vejo que é com clareza nas informações, com coerência naquilo que se pede e com o desempenho levando à conquista do resultado.
Footure: Domènec Torrent, Jorge Sampaoli, Rogério Ceni e Eduardo Coudet são alguns treinadores que aplicam conceitos posicionais em suas equipes. O que pensa sobre a ideia de ocupar racionalmente os espaços em um cenário onde grande parte dos jogadores estão acostumados com maior liberdade de movimentação?
Thiago Larghi: Eu entendo que é a evolução do jogo. É uma melhor ocupação do espaço, onde o jogo acontece com mais velocidade, com maior fluxo de ataque e de defesa. A gente vê que as transições estão sendo muito rápidas e muito bem executadas, e isso é uma tendência do futebol mundial. Eu vejo que uma ocupação do espaço bem feita facilita o trabalho e a dinâmica vai ser cada vez maior, porque as equipes vão exigir posicionamento, elas vão exigir bases de conceitos que estabeleçam esses posicionamentos que vão facilitar a vida do jogador. No futebol mundial, eu acho que é uma tendência devido à modernidade do jogo, da evolução, a velocidade, tudo aquilo que está envolvido e pertinente ao esporte.
Footure: Quando se debate o Jogo de Posição no Brasil, e isso ficou muito evidente quando Domènec Torrent substituiu Jorge Jesus, fala-se sobre podar o talento do jogador. O que pensa sobre isso?
Thiago Larghi: Eu discordo de que poda porque muito do que o Guardiola propôs eu vejo que acontece, na prática, de diferentes maneiras, que é: progredindo até o terço final e, no terço final, dando liberdade para o jogador. Então, eu acho que isso é um complementar de princípios, é um complementar de tipo de superioridade que você pretende dentro do campo – se é uma superioridade numérica, se é uma superioridade posicional. E o complemento das coisas que faz, na minha maneira de ver, é o sucesso. É usar melhor a característica do jogador.
Se tem jogador que te permite flutuar, não há porquê não deixá-lo flutuar. E se tem jogador que é forte no um contra um e é melhor a gente mantê-lo aberto, deixando ele para ir no individual, também tem que deixar ele aberto e ir para o individual. Eu vejo que são sempre situações dinâmicas, em que a gente tem que explorar melhor o grupo que se tem na mão, e a estratégia vai estar em função disso, de acordo com cada adversário que vamos enfrentar. Eu vejo sempre de modo positivo as ideias. A questão é saber usar.
Footure: Quando você voltou da Europa, chegou a ressaltar a importância de se ter um modelo de jogo definido desde as categorias de base, e esse é um debate que oferece argumentos interessantes dos dois lados. Como você vê essa questão?
Thiago Larghi: É uma pergunta muito interessante, e a resposta eu acho que ela não pode ser objetiva. Tem que se adaptar à melhor condição daquele treinador, do que ele é capaz de fazer bem. Se ele é um treinador que domina mais de um sistema de jogo, que tem a capacidade e vai acrescentar aos jogadores, variar o sistema, variar as situações de saída de bola, construção, é válido. Mas, se ele domina um tipo de sistema e aquilo ali é bom, ele vai ser treinador daquela equipe, é preciso que dê o apoio para ele executar aquilo ali a fundo e que evolua os jogadores dentro daquele modelo.
Acho que não vamos conseguir ter uma resposta única, isso vai variar de treinador para treinador, de departamento de futebol para departamento, clube para clube, porque é sempre uma situação bem complexa, de olhar mais de uma variável e, aí sim, tomar uma decisão. Na minha visão, se a gente tem condição de fazer bem mais de um sistema, eu acho que é importante. Mas, se não tem, aí também não há porquê dizer que seria prejudicar. Acho que fazer bem feito é o mais importante. Se vai ser repetindo o mesmo modelo ou se vai ser variando, aí vai depender do clube, da cultura, dos jogadores que tem à disposição e, principalmente, do que o treinador é capaz de fazer bem feito para ajudar o crescimento dos jogadores.
Footure: Após o 7×1, em 2014, cobrou-se muito a evolução geral do futebol brasileiro. De lá para cá, acha que melhoramos?
Thiago Larghi: Eu acho que evoluiu bastante. Acho que o Brasil, de certa forma, já vinha trabalhando para isso. Acho que o futebol mostrou isso na Europa. Vale lembrar que a UEFA se organizou, a nível dos cursos, há 20, 30 anos. Eles sempre tiveram, há muitos e muitos anos. Se eu não me engano, na Inglaterra, a FA já tem um diretor técnico desde 1952, chamado Walter Winterbottom, e que, depois, formou Allen Wade, um grande mestre, um grande ex-diretor da FA, autor de um dos primeiros livros sobre princípios de ataque e defesa. E nem por isso o Brasil deixou de ser vencedor, pelo contrário. Vencemos Copas do Mundo seguidas, mas o brasileiro, na minha maneira de ver, ele procurou se organizar mais.
Hoje em dia, com os cursos da CBF, ele está estudando. A tecnologia favorece. O Footure é um dos canais de troca de informação bastante positivo. Tem muitos canais disponíveis na internet, com a facilidade na troca de informação que a tecnologia proporciona, e eu vejo que os profissionais estão querendo, também. Eu acho que, cada vez mais, a gente está perdendo, talvez, algo que a gente poderia considerar um pouquinho de soberba nossa, de acharmos que a gente era pentacampeão, que o brasileiro era quem mais entendia de futebol.
Mas eu sou brasileiro e defendo o perfil do brasileiro ao ponto que não é por isso que o Brasil ficou para trás, que tem profissionais menos qualificados do que na Europa. Pelo contrário, aqui tem grandes profissionais muito capacitados, gente comprometida e que está muito disposta, está trocando cada vez mais informação, está formando grandes equipes. A gente vê bons times no futebol brasileiro, então também não há porquê a gente, a partir desse momento, considerar que tudo o que está lá fora é melhor. Eu vejo que é tempo de organização. O Brasil ficou para trás, principalmente, em relação à formação dos treinadores, e uma relação continuada tem que ser recorrente. A evolução é constante do jogo, e aí o Brasil vai voltar a ter o protagonismo que merece – também no cenário internacional.
Footure: Qual a importância de termos jornalistas e comunicadores em geral que entendam o jogo para que possam, consequentemente, analisar equipes e cobrar treinadores e trabalhos de maneira coerente?
Thiago Larghi: É cada vez mais necessário que tenhamos bons profissionais analisando o jogo, bons profissionais também na imprensa, sendo capaz de fazer críticas e pontuações que sejam pertinentes, que sejam embasadas em conhecimento, embasadas em princípios de jogo, embasadas em números e argumentações consistentes. Pensamentos desenvolvidos de forma a raciocinar sobre o jogo. A crítica, mas uma crítica bem fundamentada. Nessa área, grandes jornalistas, grandes repórteres, a gente está vendo muita gente boa surgindo e conquistando espaço nesse cenário, também.
Footure: Pep Guardiola revolucionou o futebol e teve José Mourinho como o maior adversário. Hoje, Jürgen Klopp, do Liverpool, Hansi Flick, no Bayern, e Julian Nagelsmann, pelo RB Leipzig, com um jogo vertical e de muita pressão, se colocam entre os melhores. Como você analisa a evolução do futebol nos últimos anos?
Thiago Larghi: Aquilo que foi feito pelo Guardiola era muito do encaixe de jogadores bem preparados dentro daquela filosofia, e que culminou com um treinador que soube extrair o melhor de cada jogador, soube criar as vantagens dentro do campo de modo espetacular e com jogadores de qualidade, decisivos, também – no caso do (Lionel) Messi, que, certamente, é um dos melhores de todos os tempos. Ele, quando foi para a Alemanha, também teve que modificar um pouco o seu jogo devido à característica local.
O fato é que o futebol, na essência, ele tem, dos pontos fortes e determinantes de resultados, as transições. Isso é característica do jogo. Porque, quando você pega uma equipe montada, com 8, 9, 10, a chance de gol diminui bastante. Quando você pega defesas com 3, 4, 5 jogadores em uma transição, a chance de gol aumenta. As transições são muito importantes. Números mostram que a média de gol fica em torno de 4 passes, 5 passes, o que diz que o jogo é veloz, ele precisa de velocidade.
O que o Klopp faz, o Hansi Flick ou o Nagelsmann, realmente é explorar essa característica de verticalidade, é explorar essa característica de tentar, com um jogo bastante vertical, atacar os espaços, ocupar o espaço o mais rapidamente possível e tentar construir a jogada de modo rápido, porque, se esperar, se deixar o adversário se recompor, a chance de gol vai cair. Eu vejo que são características do jogo, que, por essência, ele é rápido, ele é de transição, mas que o Guardiola, por ter tido peças espetaculares e ser inventivo… Vale ressaltar que, quando a coisa é novidade, é muito mais difícil de se neutralizar. Enquanto ele foi novidade e tinha aquelas peças adequadas, aquele time (Barcelona entre 2008 e 2012) foi praticamente imbatível.
Footure: Hoje, você vê uma atenção maior às bolas paradas no futebol brasileiro?
Thiago Larghi: Sim. Eu vejo que os profissionais estão bem mais conscientes disso, da importância que é. Junto com o observador da seleção brasileira em oito Copas do Mundo, o Jairo Santos, eu fiz um artigo, em que a gente publicou na FourFourTwo inglesa, que dizia sobre tendências do futebol internacional, e a gente colocava que os gols de bola parada iam estar entre 38 e 52%, com 95% de certeza, no futebol de alto nível. Seguindo aqueles parâmetros, seguindo aquela metodologia, a gente confirmou esses resultados, e é o que a gente vê acontecer até hoje. É uma importância muito grande das bolas paradas.
Na ultima Copa do Mundo, o número de gols de pênaltis até subiu devido ao VAR, e a gente vê que isso também é uma tendência, porque as bolas paradas são situações que acontecem com bastante recorrência e elas proporcionam, muitas vezes, situações difíceis de defender. É um momento do jogo que, em muitos tipos, a gente consegue ser bastante previsível e ter boas definições, e, em outros tipos, nem tanto. Mas, de qualquer forma, é muito válido ter um estudo aprofundado, ter uma comissão técnica bastante atenta, os jogadores serem bem treinados e estarem bastante comprometidos com aquelas execuções.
Footure: Neste momento, há algum clube que te encante e chame a sua atenção?
Thiago Larghi: O Bayern de Munique.
Footure: O único?
Thiago Larghi: O Flamengo de Jorge Jesus também me fez parar para assistir. Eu gosto do estilo do RB Leipzig, pelas peças que ele (Nagelsmann) tem disponível e que consegue extrair um jogo excelente.
Footure: O Liverpool, talvez?
Thiago Larghi: O Liverpool é interessante. É muito bem jogado, mas talvez falte alguma coisinha. Talvez os três meio-campistas são muito de transição. E agora, com a chegada do Thiago…
Footure: Te agrada um meio-campista de mais controle? O Thiago era justamente a peça que faltava para dar esse controle e essa pausa…
Thiago Larghi: Isso, exatamente. Para organizar, para cadenciar, para dar um pouquinho mais de qualidade. São excepcionais os meio-campistas do Liverpool, porém, às vezes, o jogo fica muito bate-rebate, fica um jogo acelerado. É um jogo interessante, mas é só uma questão de estilo. Eu admiro muito quando uma equipe consegue ter um maior controle do jogo, sabe? Ocupar o espaço, criar essas superioridades posicionais ou numéricas e ir construindo de modo organizado. Eu valorizo, acho bonito.
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