Um Flamengo que pede um pouco mais de ordem
Os adversários definitivamente descobriram como parar o Flamengo de Renato Gaúcho, que precisa encontrar uma resposta para além da volta dos desfalques.
O Flamengo é o melhor ataque do Campeonato Brasileiro e tem o elenco mais talentoso do país há, pelo menos, três temporadas. Apesar de ter conquistado títulos desde a saída de Jorge Jesus, em julho de 2020, e estar na final da Libertadores, o clima no rubro-negro sempre esteve turbulento nesse período. Domenec Torrent, Rogério Ceni e agora Renato Gaúcho jamais convenceram uma torcida extremamente exigente após o período de “JJ”.
Dome e Ceni são cartas fora do baralho, então vamos focar no atual treinador do Flamengo, Renato. As críticas para ele vão em direção ao jogo coletivo do time carioca. Entende-se que as soluções da equipe estão somente na qualidade individual dos atletas, porque não há padrões e organização coletiva. De fato, existem razões para essa opinião ter ganhado força.
Renato, é verdade, acredita muito na capacidade individual dos atletas e na prevalência do talento perante a outros elementos do jogo. Seu modelo ofensivo consiste em aproximar jogadores da bola, especialmente nos lados do campo, para que seus meias e atacantes de boa qualidade encontrem triangulações e boas combinações de passe. Entretanto, o Flamengo vem tendo alguns problemas: está desfalcado de seus principais nomes e as movimentações estão confusas.
Quando jogam Everton Ribeiro, Bruno Henrique, Gabigol e Arrascaeta, existe o tal do entrosamento. Desde 2019 o quarteto joga junto e se entende. Everton vai da direita para o meio, Bruno ataca a última linha do adversário, Gabigol recua para articular ou infiltra pelo lado direito e o uruguaio identifica espaços vantajosos na entrada da área para finalizar ou dar uma assistência. Eles fazem isso sempre, porque estão acostumados, gostam e o treinador acertadamente incentiva essa movimentação. Sem os quatro, o calo aperta.
Segundo levantamento de Rodrigo Coutinho, no UOL Esporte, o quarteto esteve junto em somente 12% dos jogos do Brasileirão. Seus substitutos possuem outras características. Dessa forma, vemos um time “de lua” dentro das partidas. Por vezes, o Flamengo consegue triangulações com precisão e agressividade, especialmente pelo lado direito. Entretanto, não é raro vermos uma equipe mais morosa, errando mais e mais lenta.
Neste ponto entra a necessidade de padrões mais bem estabelecidos, para que a produção ofensiva do time esteja no time, e não em duas ou três peças. O Flamengo tem dificuldades em dominar as intenções dentro do jogo, é facilmente induzido a atacar por onde o adversário quer, pelo lado escolhido pelo oponente. Além disso, sofre para criar conexões perto da área, abrir e atacar espaços, ganhar lances pelo alto e abrir linhas de passe. Quando o adversário abaixa o bloco de marcação, os atacantes rubro-negros são encaixotados.
Essa alternância de intensidade é perceptível também na marcação. Em muitas partidas o time carioca marca de longe, pressionando pouco a bola, perdendo as perseguições individuais promovidas por Renato Gaúcho e concede muitas chances de gol. Em suma, é uma equipe cujas maiores qualidades e os maiores defeitos nascem do caos de quem joga e deixa jogar. Ainda assim, um pouco mais de ordem não faria mal.
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1 comentário
É um time com baixa intensidade, muito lento e geralmente crê que dominara os adversários sem se esforçar muito. Ledo engano… Hoje em dia todo oponente joga da mesma forma contra o Flamengo (Ferrolho + Contra-Ataque) e o time não consegue se livrar disso. Falta infiltração, triangulação e velocidade ao time. Está fadado a ter muitas dificuldades.