Uma Seleção que ainda joga 50 anos depois
Um dos maiores times da história dos esportes coletivos, a Seleção Brasileira de 1970 comemora hoje 50 anos do título conquistado na Copa do Mundo do México.
Uma edição de Copa do Mundo não termina quando o capitão campeão levanta a taça. Ela fica como uma imagem congelada para ser analisada no futuro, o que permite que algumas seleções sigam jogando infinitamente na memória. O Brasil da Copa do Mundo de 1970 é um desses monumentos da bola.
Completando 50 anos de vida própria, o tricampeonato brasileiro não envelhece. A camisa amarela não desbota, os lances não perdem musculatura. Não há sinais de rugas.
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De maneira geral, um time campeão se eterniza pela conquista e pelos gols. Mas o escrete de 70 tornou-se tão mágico que até os gols não marcados são históricos. O gol marcado do meio do campo se transformou no gol que Pelé não marcou contra a Tchecoslováquia. O país europeu foi dissolvido, mas as imagens do goleiro desesperado e da bola passando rente à trave seguem sólidas. Ou a defesa de Banks. O que era para ser mais um entre os mais de mil gols do Rei se transformou em uma defesa épica. Ainda tem o drible em Mazurkiewicz, na semifinal contra o Uruguai. Lances que ainda são revistos com a esperança de que a bola entre.
Toda aquela campanha só foi possível pelos superpoderes presentes naquela escalação. Gérson tinha a canhotinha de ouro; Jairzinho era dono da força de um furacão; Rivelino possuía a patada atômica; Pelé era Pelé, não há nada maior do que isso no futebol; Tostão, o facilitador do time, tinha o mais raro dos poderes: a simplicidade. Todos capitaneados por Carlos Alberto, o capitão dos capitães.
Toda essa competência reunida deixou a impressão de que uma grande equipe pode surgir pela mera união dos melhores jogadores, pensamento que diminui o peso de Zagallo para que a mágica fosse feita. Mas aquela formação existia somente em sua mente, e se ela segue na cabeça de quem gosta de futebol, méritos ao Velho Lobo.
Zagallo criou problema para todos os técnicos brasileiros dos últimos 50 anos. Deles sempre foi exigido a escalação dos melhores tecnicamente, como se um time fosse a mera soma de talentos capazes de encontrar todas as soluções em campo. A virtuosidade daquela Seleção colocou para baixo do tapete a longa preparação daquele time e o ótimo preparo físico brasileiro, em uma Copa disputada na altitude e com temperaturas em que era melhor estar em Acapulco ou Cancún.
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Vendo aqueles jogos com os olhos de hoje, fica a imagem de uma seleção moderna, rápida e letal, à frente do seu tempo taticamente.
Foi o ápice do futebol brasileiro. Foram três títulos em quatro Copas. Duas décadas depois do Maracanazo, o Brasil saltou do complexo de vira-lata para o complexo da superioridade. Quando a camisa amarela está em campo, há obrigação pela vitória. São 50 anos que nas análises o Brasil só perde para ele mesmo, nunca por ser inferior ao adversário.
A superioridade canarinho, na realidade, nunca mais foi a mesma. Nas últimas cinco décadas, Brasil, Argentina, Itália e França sagraram-se bicampeãs mundiais, e a Alemanha ergueu a taça três vezes. Mas ainda há o peso de ter de vencer sempre.
Quando a final contra a Itália terminou, o campo foi invadido pelos torcedores mexicanos. A comemoração ia além da festa para os campeões. Havia ali uma veneração à genialidade, à excelência, à arte em forma de jogar futebol.
Há diversas razões para que um time siga jogando eternamente na memória do torcedor. O Brasil de 70 segue entrando em campo porque existe a certeza de que jamais perderá.
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