A Seleção Alternativa de La Liga 19/20

Sem jogadores de Barcelona e Real Madrid, uma seleção de jogadores que foram destaque na La Liga 19/20 e podem, facilmente, competir pelo prêmio

Um dos grandes argumentos de quem contesta a competitividade da La Liga é o fato de Barcelona e Real Madrid se sobressaírem, em grande maioria das temporadas, em relação ao título. Entretanto, o campeonato em si é bastante competitivo e não há o que questionar sobre isso – o destaque de times espanhóis em competição europeia demonstram isso.

Equipes em sua grande maioria bem treinadas, ótimos repertórios táticos, grandes goleiros, dezenas de talentos e uma boa reunião do jogo coletivo. Mas, ao fim da temporada, como seria a seleção do campeonato sem as duas equipes? Quais os grandes jogadores dentro da La Liga fora Barcelona e Real Madrid?

O goleiro tinha que ser Aitor Fernández

Com o maior número de defesas difíceis da liga e 76% das bolas defendidas, Aitor Fernández teve um excelente desempenho individual na temporada. O goleiro espanhol foi fundamental para que o Levante conseguisse sua melhor posição na primeira divisão desde o 10º lugar na temporada 2013/14.

Sua performance foi tão fantástica que já se fala em uma convocação para a seleção devido a má fase dos seus compatriotas. Apesar da idade (29) é notório a sua representação como um grande goleiro e é garantido interesse de outros clubes. Menções honrosas: Jan Oblak e Unai Simón.

Os laterais Jesús Navas e Reguilón

Sevilla em sua essência. Lopetegui fez um trabalho fantástico na equipe e o coletivo com certeza foi o fator principal para alcançar a vaga na Champions League. Porém é nítido como os dois laterais conseguiram se destacar além dessa questão.

Emprestado pelo Real Madrid, Reguilón já tinha trabalhado com Lopetegui no pouco tempo que o treinador comandou o clube merengue, e obviamente sua ótima liga também implica nisso. A evolução no Sevilla – obviamente uma equipe melhor estruturada dentro das quatros linhas em relação ao Real Madrid da temporada passada – foi só uma parcela do que já tinha demonstrado na capital.

Com um potencial absurdo, o lateral tem um poder de aceleração admirável – fora o bom trabalho no primeiro terço – característica que facilitava seu papel durante a transição defensiva da equipe, permitindo avanços sem maiores preocupações, além do papel importante na pressão avançada sem a bola. Essa temporada foi apenas um detalhe para a transformação de Regui em um lateral completo, com diversas facetas em um estilo tão complexo como o de Lopetegui.

No lado direito e aos 34 anos, Jesús Navas não cansa de demonstrar excelência em campo. Mesmo como lateral nos últimos anos da sua carreira, o espanhol é extremamente importante no plano criativo ao gerar profundidade para a equipe.

Navas é o defensor com mais assistências (7) e o jogador com maior número de cruzamentos certos (55) durante a temporada 2019/20.

Além de ser um líder dentro do clube, contribui absurdamente no jogo do seus companheiros também dentro das quatro linhas. Sua função fez com que a equipe não sentisse tanta falta do poderio ofensivo de um atacante de área –principal deficiência da equipe durante a campanha. Navas sabe bem quando pode acelerar, controlando o jogo com excelentes tomadas de decisão, atraindo defensores e deixando espaços para os atacantes do Sevilla avançarem.

Diego Carlos e Felipe: a dupla de zaga brazuca

Em relação aos zagueiros não tem muita discussão. Os brasileiros foram contratados para essa temporada e chegaram tomando conta do sistema defensivo de suas equipes, e de cara já estão entre os melhores zagueiros da liga.

Diego Carlos é uma das grandes contratações de Monchi nos últimos anos. Poucos zagueiros no mundo podem ser mais completos que o brasileiro em uma idade que o auge fica cada vez mais perto – o Sevilla pagou apenas 15 milhões de euros pelo jogador. Principal símbolo da terceira melhor defesa da liga, atrás de Real Madrid e Atlético, Diego cresceu de forma absurda em pouco tempo.

É incrível como um zagueiro tão alto e físico consegue produzir e se destacar também pelo lado técnico. O ótimo aproveitamento em passes, sendo fundamental para a saída que Lopetegui propõe, além do combate e velocidade para superar os adversários junto da consistência e regularidade são parte dos fatores que fazem do jogador um dos melhores da temporada.

O trabalho de Felipe nesse Atleti é ainda mais valorizado quando você para e pensa que ele veio para substituir Diego Godín. Eleito pelos colchoneros como o melhor reforço do clube para a temporada, o zagueiro se tornou um pilar do cholismo e, claro, do sistema defensivo da equipe.

O fato do treinador priorizar esse setor faz com que atuações dos defensores fossem muitas vezes subestimadas em vista do que o time propõe. Mas é claro que não se trata disso. Em um período de adaptações e novos jogadores para substituir grandes referências, o brasileiro conseguiu surpreender no Atleti mesmo com uma idade considerável avançada nos moldes atuais.

Se adaptar ao que o treinador pede não é fácil, ainda mais quando é necessário dar o seu máximo dentro de um sistema, mas Felipe conseguiu tudo isso e mais um pouco. Um dos melhores defensores da grande área do futebol europeu.

Felipe foi o defensor com mais interceptações, cortes e chutes travados do Atleti na temporada.

Os meias e suas particularidades

Raúl Garcia

Mais um para a lista dos experientes que ainda produzem em alta escala, Raúl Garcia é o jogador mais importante da campanha do Athletic Bilbao e um cara subestimado dentro do que executa na liga. Em uma temporada não tão agradável em termos coletivos, o individual pesou, e o jogador demonstrou ainda mais poder de fogo adversário no retorno. Com 15 gols na temporada, o meia alcança uma polivalência ao longo da sua carreira que impressiona.

O aprimoramento ofensivo foi enorme nos últimos anos e Raulga se tornou um mestre da grande área. Solução como um falso 9 após declínio físico de Aduriz, o jogador permanece com grande intensidade e oportunismo para marcar seus gols, além de ser exímio ao pressionar o adversário. Sua constância e busca por corrigir erros jogo após jogo formam a grande temporada na qual se prova cada dia mais.

Santi Cazorla

Mais um para a lista dos ‘trintões’. Depois de tantas dificuldades relacionadas a lesão durante toda sua carreira, Santi Cazorla reencontrou a felicidade no Villarreal. Fundamental na campanha que levou o time a uma competição europeia depois de um 2018/19 bem abaixo do que se esperava.

Com 20 participações em gols da equipe na liga, Santi conseguiu superar o físico para solucionar problemas de criação da equipe – média de dois passes chaves por partida – e fazer diversas funções dentro do esquema proposto, em grande maioria do tempo saindo do lado esquerdo.

Martin Odegaard

Após passar por aprimoramentos físicos durante seu período de empréstimo na Holanda, Odegaard conseguiu encontrar seu lugar em uma liga de alto nível. Apesar da queda de rendimento pós-paralisação, o norueguês fez uma das temporadas mais brilhantes de um jovem dentro da liga. Sua influência é tamanha que fica nítido como a equipe perde em um desempenho abaixo do mesmo.

Tudo fica ainda mais incrível se tratando de um jogador em processo de desenvolvimento e com um futuro bastante promissor, já sendo considerado um dos melhores meias dessa temporada. A noção de responsabilidade tática e toda a transformação ao se tornar um meia altamente associativo e com poder de quebrar linhas é o que mais agradou nessa temporada – e sem dúvidas a supremacia da Real antes da paralisação era comandada por Martin desde o meio-campo, ficando ainda mais evidente a queda de rendimento da equipe relacionada a queda do jogador.

O trio de ataque

Sem Lionel Messi e Benzema fica mais fácil apontar os escolhidos para formar o trio ofensivo. Com a presença dos dois artilheiros seria extremamente difícil descartar dois dos citados em vista da temporada dos mesmos. Mas vamos lá.

Gerard Moreno

Outro pilar ofensivo do Villarreal, Gerard Moreno consegue fazer qualquer função no ataque, mas o fator gol é o que chama atenção. Sua fase foi incrível e predominante, coroada com o Troféu Zarra – prêmio dado ao jogador espanhol com mais gols na liga: 18 gols marcados. Ademais foi o quarto jogador com mais participação em gols durante todo o campeonato.

Peça fundamental ao lado de Cazorla, o canhoto fez melhor temporada da carreira, marcando gols quando a equipe mais precisava, saindo da área e desafogando maiores problemas ofensivos, principalmente após a paralisação: foi o jogador com mais gols (7) ao lado de Benzema.

Lucas Ocampos

Outro goleador, Lucas Ocampos é a melhor contratação da La Liga nessa temporada. Se tratando de custo benefício nada poderia ser melhor para o Sevilla do que o argentino. Mas quem o acompanhou no Marseille já saberia. O ponta foi o artilheiro da equipe com 14 gols e peça fundamental em situações de pressão e retomada da bola no campo de ataque.

Além de contribuir com gols, Ocampos foi o atacante com mais desarmes (54) e interceptações (22) no campeonato.

Sua alta estatura, alinhada com imposição física e velocidade são as causas do sucesso logo na primeira temporada. O problema com a difícil adaptação dos centroavantes Luuk de Jong e Em-Nesyri foi basicamente resolvido com os gols do ponta, que conseguia acelerar, gerar profundidade juntamente com os espaços proporcionados por Jesús Navas e se posicionar de maneira magistral para marcar.

Mikel Oyarzabal

Depois de um retorno nada legal, a Real Sociedad perdeu eficiência no último terço e por pouco não ficou sem sua vaga em uma competição europeia. Mas Mikel Oyarzabal não se deu por vencido e manteve o ritmo.

Uma temporada brilhante do espanhol que conseguiu se colocar por cima do declínio coletivo de sua equipe e das responsabilidades individuais que lhe chamaram. 10 gols e 11 assistências em uma das temporadas que pode ser a chave para a virada da carreira do jogador. O que mais impressiona nisso é sua relevância ser muito além desses números. Em diversos momentos em que o time não conseguiu encaixar jogadas e ter um objetivo para marcar lá estava ele.

Sua função lembra, obviamente em uma escala bem menor, o que Messi faz no Barcelona. A habilidade em sair da ponta para o meio, de forma incisiva, mas também associando em toques rápidos, dominando o setor defensivo do rival e sustentando uma dupla com o centroavante, seja Isak ou William José, é de brilhar os olhos. É sem dúvidas o grande talento desse XI ao lado de Odegaard e dono de um potencial enorme pouco valorizado dentro do que a liga prestigia.

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