Como Bruno Fernandes pode acrescentar ao Manchester United?
Meia português pode ser a peça mais cerebral que está faltando em um ataque de muita velocidade e infiltração
A reconstrução do Manchester United continua. Após a saída de vários jogadores e a chegada de reforços pontuais na janela de verão, Ashley Young foi vendido para a Inter de Milão e é possível que nos próximos dias outro negócio seja concretizado: a compra de Bruno Fernandes junto ao Sporting.
E a transação com os portugueses tem potencial de melhoria imediata e considerável para a equipe titular – como foram Wan-Bissaka, Maguire e James. Se tem uma coisa – não só isso – que Ole Gunnar Solskjaer vem fazendo com sucesso desde sua efetivação é substituir atletas de desempenho abaixo do esperado por peças consistentes que se tornam importantes no cenário coletivo.
O meia português deve ser mais um a repetir o padrão? Considerando que o clube teve a chance de contratá-lo em julho e não o fez por algumas dúvidas específicas, é natural transformar essas questões em um pequeno nível de preocupação, mas nada gigantesco. Acredito que toda análise deve começar a partir do perfil e sua função relacionada à de outros jogadores do time e o encaixe agora tem tudo pra ser natural – e com possíveis implicações futuras.
Os red devils já têm a correria e a infiltração: Rashford, Martial e James, sendo o papel do francês mais de facilitador, se destacam por causar extremo perigo quando o adversário se expõe, em transições e espaço aberto. Falta alguém pra segurar um pouco mais a bola, receber no pé e gerir o ataque transmitindo mais frieza e menos caos. O “10”, independente da posição que começar jogando.
Obs.: Há tempos dá pra enxergar Jadon Sancho, alvo declarado, como a resposta perfeita para essa lacuna. Continuariam tendo o inglês no radar? Até imagina-se que sim, mas pode gerar uma incompatibilidade em função.
Assim como Bruno, o camisa 7 do Borussia Dortmund fica diante da defesa e não a todo momento passando por trás dela – algo que só Rashford faria com naturalidade. Martial está longe de ser especialista nesse sentido. Nas laterais, Williams ainda é um garoto e estaria no lado que já conta com um infiltrador. Quem daria profundidade na direita se James for pra reserva? Wan-Bissaka certamente não. Ou seja, pode vir a faltar um aspecto importante do jogo do United.
Mas isso é só uma observação que pode não fazer sentido algum dependendo dos próximos negócios. É hipotético. Voltamos para o que importa no momento.
De qualquer maneira, Bruno Fernandes é uma das melhores opções para resolver problemas visíveis. Falta criatividade e produtividade direta no meio-campo? Ele é capaz de encontrar soluções em cenários complicados e, pra um meia, tem números absurdos: são 42 gols e 27 assistências desde o início da temporada passada (18/19). Falta ativar ainda mais a movimentação do setor ofensivo? É líder de passes-chave no Campeonato Português, tem visão de sobra e gosta de agir como um armador vertical.
Há também o grande extra do chute de fora da área, algo que naturalmente pode melhorar as coisas para a equipe contra defesas fechadas. O marcador quando enfrenta um especialista em batida de longa/média distância pensa duas vezes antes de guardar posição em sua linha ou pressionar de modo mais agressivo, abrindo espaços.
E aí o português pode fazer o que mais gosta – o torcedor pode ir se acostumando com muitas finalizações mesmo, às vezes até desmedidas – ou o que sabe fazer com qualidade, fugir do oponente com gingas e dribles curtos e encontrar algum companheiro em melhor situação para definir. É difícil que suas estatísticas não caiam em uma liga bem mais exigente como a Premier League, mas até com a esperada queda já deve oferecer um retorno de grande valia.
Os últimos 15 gols dos comandados de Solskjaer no campeonato nacional foram marcados pelos atacantes Rashford, Martial e Greenwood. Em 19/20, Pogba só esteve em campo por mais de um tempo em seis jogos e, desde setembro, participou de 26 minutos contra o Watford e 45 diante do Arsenal – e só. Vem empilhando lesões e, sempre sendo um nome forte no mercado, não se sabe o quanto dá pra contar com seus (ótimos) serviços.
Os meias e laterais não costumam contribuir ativamente para a rede balançar e seria interessante ter um jogador que está acostumado com essa responsabilidade e pode ser o “10” do 4-2-3-1 ou o “8” do 4-3-3, com maior participação na construção desde trás. Já foi uma espécie de “controlador” na Sampdoria, ditando o ritmo, e poderia utilizar alguns dos artifícios daquela época no Old Trafford, que precisa de figuras mais cerebrais no meio.
Além de que seu trabalho defensivo é digno dos padrões que a comissão técnica definiu para esse grupo em construção. Não tem o físico que poderia lhe render melhores frutos, mas a vontade e a intensidade nas ações sem bola claramente existe. É um ponto vantajoso em relação a James Maddison (Leicester) e Jack Grealish (Aston Villa), outros armadores que são ligados ao clube. O 8 do Sporting pode ser, basicamente, um Lingard com qualidades de outro patamar.
Há também o fator do United ter deixado passar tantas oportunidades nos últimos anos que existe o medo de esse rumor culminar em mais um caso fracassado. Mahrez, Bernardo Silva e Mané são alguns que foram especulados no lado vermelho de Manchester, mas acabaram brilhando com camisas rivais. O Tottenham é outro interessado em Bruno Fernandes e podem ter certeza: nenhum red devil aguenta mais ver bons atletas, que poderiam ser deles, crescendo em outros lugares.
Comente!