Como o Corinthians Feminino perdeu a invencibilidade no Brasileirão?
Depois de um ano, Corinthians Feminino perde sua invencibilidade no clássico contra o São Paulo
21 de Março de 2019, a última vez em que o Corinthians Feminino havia perdido um jogo, até a última rodada do campeonato brasileiro. O revés diante do São Paulo por 2×0 encerrou uma jornada de 48 jogos de invencibilidade. A equipe do Parque São Jorge foi vice-campeã brasileira, campeã da libertadores e do campeonato paulista nesse período.
Os 48 jogos de invencibilidade do Corinthians Feminino:
- 45 vitórias
- 3 empates
- 148 gols marcados
- 18 gols sofridos
- 6 vitórias por 5 ou mais gols de diferença
- 15 vitórias por 4 ou mais gols de diferença
- 22 vitórias por 3 ou mais gols de diferença
- Sofreu mais de 1 gol no mesmo jogo apenas 2 vezes
- Curiosidade: Gláucia marcou os dois gols da vitória do Santos em 2019. Hoje, a atacante veste a camisa do São Paulo e abriu o marcador que encerrou a série invicta da equipe comandada pelo Arthur Elias.
O Corinthians inicia esse campeonato brasileiro como uma das equipes favoritas ao título. Isso porque, além de ser o atual vice-campeão, manteve suas jogadoras e ainda conseguiu bons reforços no mercado. Todavia, apesar de ter vencido as três primeiras rodadas, a equipe que ficou marcada em 2019 como “time de recordes”, ainda não conseguiu atingir o nível técnico e físico apresentados na temporada passada. Oscilação natural, mas que levou o treinador a mexer na configuração do time para enfrentar o São Paulo, custando a primeira derrota no campeonato e o fim da série invicta.
Os números impressionantes atingidos pelo Corinthians se dá muito pela forma que o time joga. Se defende no 4-4-2 e ataca variando entre o 3-4-3, 2-3-5, 3-3-4, enfim, conta com muita mobilidade de suas jogadoras do meio pra frente para confundir a marcação, criar espaços, infiltrar na área e busca o jogo associativo com muito apoio e amplitude. A marcação na saída de bola adversário e a pressão pós-perda também são características marcantes desse time, o que justifica o Arthur Elias rodar tanto o elenco, mantendo as jogadoras em alto nível de competitividade e intensidade necessárias. Você pode ler o dossiê mais completo dessa equipe no texto que postamos ano passado (clique aqui).
Por que o Corinthians perdeu a invencibilidade para o São Paulo?
Durante a janela de transferência, o Corinthians havia perdido apenas uma jogadora, a Millene Fernandes, artilheira do time na temporada 2019, com direito a recorde de gols marcados em uma única edição de campeonato brasileiro e também a maior artilheira de toda a história da competição.
Millene é uma peça fundamental para agredir os espaços abertos pela movimentação de suas companheiras. A jogadora foi transferida para a China, mas retornou agora ao Corinthians por empréstimo devido aos problemas que o país enfrenta em relação ao coronavírus.
Enquanto ela não retorna também aos gramados, o Corinthians ainda tenta encontrar a melhor maneira de atuar sem ela. Isso porque Adriana e Gabi Nunes, outros dois nomes responsáveis por marcar gols no time, se machucaram no meio da temporada passada. Adriana está voltando agora, ainda sem ritmo de jogo, e Gabi Nunes foi relacionada pela primeira vez justamente contra o São Paulo, mas ainda não estreou.
Apesar de ter vencido as três primeiras rodadas do brasileiro, inclusive o Derby paulista na abertura do campeonato, o Corinthians ainda não tinha conseguido ser tão agressivo quanto em 2019, mesmo sendo a equipe que mais criou chances de gols até então.
Em todas as ocasiões, a Adriana havia entrado no segundo tempo para jogar centralizada e ofereceu mais argumentos ofensivos ao time. Dessa vez, então, o Arthur Elias optou pelo retorno da atacante a equipe titular.
Quais foram os principais erros do Corinthians no primeiro tempo?
O Arthur Elias mexeu bastante na configuração do time. Gabi Portilho é uma jogadora veloz e habilidosa, que gosta de atacar as costas das laterais, mas diante do São Paulo inverteu de posição com a Victória Albuquerque, meia atacante com muito poder de criação por dentro.
Adriana e Gabi Portilho protagonizaram, então, uma dupla inédita de ataque, além de ter sido o primeiro jogo das duas como titulares.
Sabe-se que o Corinthians é uma equipe que abusa do jogo associativo para infiltrar na área a partir de muita troca de passe e movimentação. A dupla de ataque sofreu com a falta de entrosamento não só entre elas como com o restante da equipe. Optaram muitas vezes pelo jogo individual e abusaram das decisões erradas e passes incompletos.
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A titularidade da zagueira Mimi, entrando em campo pela primeira vez na temporada, acabou sendo um erro forçado, uma vez que a Érika, dupla de zaga da Pardal e titular da seleção brasileira, se machucou e foi desfalque para a partida. Mimi é uma excelente jogadora e foi titular na maioria dos jogos da temporada passada, inclusive o Corinthians atuou diversas vezes com as três em campo, tendo a Érika como uma volante/líbero a depender da configuração do time. Acabou perdendo um pouco de espaço no final de 2019 e ainda está fora de sua forma física ideal, além da falta de ritmo.
Outra jogadora fundamental para o Corinthians mas que ainda não conseguiu jogar bem, é a lateral esquerda Juliete, uma das protagonistas no título da libertadores conquistada pela equipe no ano passado. Nas três primeiras rodadas acabou sendo substituída e, para o partida contra o São Paulo, Arthur Elias optou por sacá-la da equipe titular e recuou a Tamires (meia extrema/ponta esquerda) para a posição.
Como o São Paulo se armou para esse jogo?
Diferente do 4-4-2 apresentado contra o Cruzeiro, o São Paulo iniciou a partida no 3-4-3, tendo a lateral direita (Bruna) como o terceiro elemento dessa linha de três. Thaís Regina na sobra, centralizada, e Gislaine pela esquerda.
A falta de agressividade comum do Corinthians até facilitou a saída de jogo do São Paulo, porém as donas da casa sofreram no início da partida com as subidas das extremas alvinegras pelos corredores, principalmente pelo lado esquerdo de sua defesa com a Vic Albuquerque explorando as costas da linha de meio.
No entanto, Vic e Gabi Portilho tiveram dificuldade de associação pelo setor, muito pela falta de entrosamento, as posições invertidas, e ao próprio São Paulo, que aos poucos recuou mais a linha e protegeu melhor o setor com dupla marcação.
Pelo meio, Grazi foi a jogadora mais participativa do jogo corinthiano, sendo intensa na pressão pós perda e acionando suas companheiras de ataque, mas também teve dificuldade de dialogar com a dupla de ataque centralizada. Foram de fora da área as melhores chances da equipe alvinegra.
O São Paulo, por sua vez, contou com um dia muito bom de suas três jogadoras com maior responsabilidade ofensiva para essa partida. Carol ditando o ritmo das transições da equipe, sendo importante tanto ofensivamente quanto defensivamente. Duda muito solta no jogo e acionando bem a Gláucia, e foi de uma boa jogada da camisa 10 do tricolor que as donas da casa abriram o placar.
O primeiro gol
O São Paulo subiu ao ataque mais uma vez pela esquerda, e a Kati (lateral direita do Corinthians) contava com a ajuda da Vic Albuquerque na marcação. Em erro de movimentação, as duas atacaram a portadora da bola e permitiram linha de passe para da camisa 10 (Duda) para a lateral Dani, que cruzou com liberdade encontrando a Gláucia nas costas da zagueira Mimi. A atacante do São Paulo cabeceou sem dificuldade para o fundo do gol.
A frente no placar, o São Paulo se preocupou primeiramente em evitar os avanços do Corinthians que utiliza muito da infiltração de suas atacantes e a Grazi (VOL) que sempre pisa na área como elemento surpresa. Recuou sua linha de defesa, protegeu o funil e foi dono de sua área. Até permitia profundidade ao Corinthians na amplitude, porém povoava a área e era muito mais intenso nos combates aéreos e disputa por espaço.
O segundo gol
Já no final do primeiro tempo, o São Paulo cobrou lateral no campo de ataque e a dupla de zaga do Corinthians bateu cabeça para marcar a camisa 7 (Carol) do São Paulo, que passou entre as duas e encontrou a Duda na pequena área para ampliar o placar.
Mexidas do Arthur Elias para o 2º Tempo
O Corinthians não perdia por dois gols de diferença desde 2017, contra o Rio Preto, equipe que já não existe mais. Depois disso, havia saído do primeiro tempo perdendo por 2×0 somente na libertadores em Outubro, e acabou empatando o jogo. Fato era, o time precisaria se armar ainda mais ofensivamente para tentar defender a invencibilidade. Sem medo de ousar, o treinador corinthiano já voltou para o segundo tempo com duas trocas. Andressinha (MEIA) no lugar da Grazi e Poliana (LD) no lugar da Kati (Também LD).
A entrada da Andressinha deu mais fluidez ao jogo do Corinthians de área a área. A meio campista da seleção brasileira e ex Portland Thorns, equipe mais tradicional dos Estados Unidos, teve nesse segundo tempo sua melhor apresentação com a camisa do Corinthians.
Poliana conseguiu maior solidez no combate defensivo individual, especialmente no duelo contra a Duda, justamente por ser uma jogadora mais forte e alta que a Kati, além do que, sua presença próxima das zagueiras, possibilitou o balanço defensivo necessário para proporcionar maior liberdade ofensiva a Tamires.
Além das mudanças de jogadoras, Vic Albuquerque e Gabi Portilho também trocaram de posicionamento. A Vic voltou a sua posição de origem atuando por dentro e a Gabi explorando o corredor em velocidade, como ponta.
Com Gabi Zanotti (10 corinthiana), Andressinha e Vic por dentro, o Corinthians conseguiu ter mais controle do meio de campo e passou a criar mais jogadas, porém, pecou muito nas finalizações e tiveram dificuldade de vencer a goleira Carla, que fez excelentes defesas durante a partida.
A resposta do São Paulo
Lucas Piccinato (treinador do SP) percebendo que o Corinthians passou a jogar mais leve e a criar espaços em sua defesa, retirou uma das zagueiras (Bruna) e colocou a lateral (Roberta), além de ter recuado a também a Dani. O time assumiu de vez o desenho 4-4-2 com apenas Gláucia e Duda mais a frente, compactando mais a sua defesa e apostando nos contra-ataques.
Aos 22 minutos, o Arthur Elias trocou a Vic Albuquerque pela Juliete, com a ideia de soltar de vez a Tamires ao ataque. A Vic, por sua vez, fez muita falta a equipe, que conta muito com sua dinâmica de jogo no último terço. A manutenção da Adriana que não fazia um jogo inteiro há meses também custou ao time alvinegro. Com menos profundidade devido ao desgaste das jogadoras sem ritmo e a queda de criatividade com a ausência da Vic, o Corinthians ficou muito dependente da Andressinha por dentro, que fez um bom jogo, mas não pode contar com um dia inspirado de suas companheiras.
Pelo lado do São Paulo, Carol talvez tenha sido a melhor jogadora em campo, muito agressiva pelo meio para impedir os avanços rápidos da equipe corinthiana e também acionando Gláucia e Duda ao ataque, não a toa foi muito aplaudida ao ser substituída.
Os números da Carol, destaque do time do São Paulo na partida
10 passes certos, 3 passes decisivos, 1 assistência, 4 faltas sofridas, 5 dribles completados, 2 bolas recuperadas, 6 desarmes, 6 interceptações, posse de bola desperdiçada 11.
Os números da Andressinha, destaque pelo lado do Corinthians:
29 passes certos, 3 passes decisivos, 2 chances criadas, 1 drible completado, 2 bolas recuperadas, 1 desarme, 1 interceptação, posse de bola desperdiçada 9.
Na próxima rodada, o Corinthians tem outro jogo duro, enfrenta a atual campeã brasileira Ferroviária, que venceu as quatro rodadas até aqui. Já o São Paulo enfrenta vai a Vinhedo enfrentar o Palmeiras.
Números: Empório de Notícias
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