Como joga Matheus Cunha, a sensação do retorno da Bundesliga
Matheus Cunha ainda é um desconhecido do grande público brasileiro. Entenda seu estilo de jogo, virtudes e pontos de melhoria
O retorno da Bundesliga como primeira grande liga do mundo a retomar as atividades com a pandemia da Covid-19, fez o interesse do ‘’torcedor comum’’ brasileiro se voltar a um atleta que vai ganhando espaço na Europa. Matheus Cunha está prestes a completar 21 anos, mas já vive a sua terceira temporada no velho continente.
Comprado pelo RB Leipzig junto ao FC Sion em meados de 2018, foi vendido recentemente ao Hertha Berlin e, mesmo num clube que vive um ano bem conturbado, chegou elevando o patamar da equipe, mostrando os dotes que o levaram a seleção olímpica do Brasil e o tiraram do Coritiba com apenas 18 anos.
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Em 2019/2020, Matheus Cunha fez até aqui 19 partidas, oito como titular, e marcou quatro gols, todos com a camisa do Hertha, clube que conta com seus serviços desde a parada de inverno do Campeonato Alemão. Por mais que o elenco do time treinado por Bruno Labbadia seja inferior ao do Red Bull Leipzig, algo que dá a Matheus mais protagonismo naturalmente, a repentina subida de produção pode ser considerada um pouco surpreendente. O Hertha tem em Labbadia o seu quarto técnico na temporada, é um time que tenta se ajustar faltando poucas rodadas para o fim da época, ainda ganha padrões, é apenas o 11º colocado na Bundesliga.
Não é simples para um jogador de 20 anos chegar em um clube relevante no cenário alemão e jogar tão bem nas condições citadas no parágrafo anterior. Temos aqui então o primeiro traço das características de Matheus, a personalidade forte. O atacante brasileiro tem no DNA o atrevimento, a vontade de arriscar, e a agressividade necessária aos homens de frente de alto nível. Isso potencializa algumas das virtudes deste natural de João Pessoa nos âmbitos técnico, tático e físico.
Parte Técnica
Matheus Cunha apresenta ótimo nível nas finalizações de média e curta distância para um atleta de 20 anos de idade. Tem chute potente da entrada da área e tenta sempre o arremate cruzado, rasteiro, em finalizações de dentro da área. Seu bom trato com a bola possibilita o desempenho satisfatório em conduções em velocidade, tabelas, e dribles curtos. Tem o último passe bem apurado para servir os companheiros. Pode melhorar o “primeiro toque”, o domínio, para resolver as jogadas mais rapidamente e evoluir quando está de costas para a zaga.
Na bola aérea também precisa melhorar. Para um jogador de 1,84m não tem um percentual tão alto de vitória nesse tipo de lance, assim como a técnica de cabeceio. Como tem pouco tempo de profissional e vem mudando o seu nível de competitividade ano após ano, ainda oscila nas ‘’tomadas de decisão’’. Nas cobranças de pênalti, tem o perfil ‘’dependente’’, corre para a bola olhando para o goleiro e espera a movimentação do arqueiro para escolher o lado, só deslocando, tem bom aproveitamento nas penalidades.
Parte Tática
O paraibano pode atuar como centroavante ou “segundo atacante”, como aliás vem sendo utilizado na maior parte dos minutos no Hertha Berlin, solto, por trás de Ibisevic ou Piatek. Também já foi escalado aberto pelo lado esquerdo, buscando a área em diagonal, tabelas e finalizações da entrada da área. Pelo seu potencial de movimentação, restringi-lo a uma faixa do campo, em ataques mais posicionais, não é a melhor forma de utilizá-lo. Quando joga como “9”, não é o tipo de atacante que dará profundidade o tempo inteiro, em vários momentos busca ficar na intermediária, no espaço entre a linha de defesa e de meio do adversário.
Outro movimento bem típico dele é a diagonal curta do meio para os lados, entre zagueiros e laterais, visando receber em profundidade e cruzar rasteiro, ou bater cruzado no canto oposto do goleiro. Dificilmente se sente confortável fazendo o trabalho de pivô, precisa melhorar nesse ponto. Defensivamente auxilia marcação na saída de bola adversária com intensidade, mas quando precisa retornar fechando o lado esquerdo como ponta acaba pecando no posicionamento e na agressividade ao pressionar a bola.
Parte Física
Longilíneo e forte fisicamente, Matheus vem evoluindo bastante neste aspecto desde que chegou ao futebol suíço. Se lhe falta mais sustentação para jogar de costas muitas vezes, sobra explosão para ganhar duelos em distâncias curtas, mudar rápido de direção e aproveitar o comprimento de suas pernas em jogadas de alta velocidade, como contra-ataques e reações velozes ao perder a bola. Fisicamente pode melhorar a resistência ao longo de todo o jogo. Tem períodos de queda de intensidade nos 90 minutos, mas quando ganha sequência de partidas cresce nesse ponto.
Projeção
Acompanhar a curva de crescimento de Matheus Cunha vem sendo satisfatório ao projetá-lo como atleta com potencial para brigar por vaga na Seleção num futuro próximo. Como todo jogador jovem e, consequentemente em processo de amadurecimento psicológico, social e físico, é preciso ter cautela e entendimento dos percalços e processos naturais que um profissional passa ao longo da carreira, mas uma coisa podemos dizer: o Brasil tem mais um atacante de alto nível nascendo.
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