NO DESESPERO, SÓ O 'CHUVEIRINHO' BASTA?

Por @BolivarSilveira 88’.  Entra, Crespo. Sai, Batistuta. Miyagi, 12 de Julho de 2002. O dia que uma substituição mudaria a vida de um país inteiro e, principalmente, de Marcelo Bielsa. Como todos sabemos os hermanos, ao outro lado do rio da Prata, caíram na fase de grupos da Copa do Mundo de 2002.  O que muitos não […]

Por @BolivarSilveira

88’.  Entra, Crespo. Sai, Batistuta.

Miyagi, 12 de Julho de 2002. O dia que uma substituição mudaria a vida de um país inteiro e, principalmente, de Marcelo Bielsa. Como todos sabemos os hermanos, ao outro lado do rio da Prata, caíram na fase de grupos da Copa do Mundo de 2002.  O que muitos não conhecem é o burburinho que se criou na ultima partida da fase de classificação.

Sabendo da necessidade de vitória sobre a Suécia, os torcedores e os jornalistas argentinos, fizeram uma campanha para Hernán Crespo e Gabriel Batistuta atuarem juntos. Afinal, os dois centroavantes viviam grande fase na carreira, ambas na Itália, e seriam o caminho ao gol e concomitantemente as oitavas de final. Bielsa, não escutou a sugestão e seguiu firme no que acreditava. Trabalhar o jogo por baixo e nunca, JAMAIS, atuar com dois centroavantes fincados para cruzar bola na área. Mas além de ter se recusado a trocar a formação do time, “Loco” Bielsa fez jus ao apelido e substituiu os jogadores, um pelo outro, aos oitenta e oito minutos de partida! A escolha do treinador não teve sucesso e a Argentina de 2002 caiu antes do mata-mata, ferindo o ego de uma nação e marcando uma geração.

Muitos acreditam que a falta de Crespo e Batistuta jogando juntos foi o culpado pelo declínio albiceleste, mas será que dois centroavantes e o famoso “chuveirinho” dão resultado quando o time precisa fazer um gol?  Será que você está pedindo a melhor estratégia, quando o seu time do coração precisa de apenas um gol para conquistar a glória máxima e você fala “cruza essa bola na área, cara***”?

É isso que vamos debater em cima dos dados levantados de quatro ligas na temporada 2017/2018. Os gols contabilizados foram os que aconteceram após minuto oitenta de cada jogo, com a equipe em desvantagem ou empatando. Tentando demonstrar a origem dos gols sobre um contexto desfavorável. Os gols foram buscados aleatoriamente para não induzir à um resultado específico.

Para uma melhor visualização da construção da jogada, foram gerados dois gráficos. Um informando a origem do gol e outro demonstrando o modo da finalização. Enfim, vamos aos resultados.

Imagem1

imagem 2

O levantamento demonstra que a maioria dos gols na “banheira das almas” nascem de cruzamentos de bola rolando. Podem ser cruzamentos trabalhados até criar espaço dentro da área adversária ou o cruzamento no estilo “chuveirinho”. Até ai nenhuma surpresa. Mas o que surpreende é o modo da finalização. 45% dos gols são de rebote e não de cabeceios, como naturalmente acreditamos que sejam onde acabam os cruzamentos. Em segundo lugar, ficam as jogadas de ataque posicional, 25%, que configuram triangulações, tabelas e o movimento “facão” (receber o passe por trás da defesa). Essa jogada geralmente acaba em finalização dentro da área, 30%.Os cabeceios vindos de escanteios ou bolas paradas configuram um numero baixo de êxito em comparação com outros atributos.

O que conseguimos concluir com essa leitura é que simplesmente botar bola na área e acumular centroavantes não é a solução. Porem, a figura do centroavante é necessária como ponto de referencia para “pivotear” e até mesmo conseguir concluir cruzamentos, mas mais importante que isso é povoar a zona do rebote e possuir bons cruzadores. Caso esses possuírem um bom passe de ruptura, saibam se movimentar e ler espaços, melhor ainda.

“Antes de voltar mentalmente ao seu Bayern, Pep ainda traz outra lembrança do seu Barça: refere-se à dramática semifinal de Champions League contra o Chelsea em 2012, quando o Barcelona chutou 46 vezes contra Petr Čech (23 na ida e outras 23 na volta), mas foi eliminado. O Chelsea passou à final, jogada na Allianz Arena contra o Bayern, e venceu na disputa de pênaltis. “Naquele  dia,  eu  me  equivoquei.  Depois,  pensei  nisso  mil  vezes.  Disse  aos jogadores que cruzassem na área, mas não soube definir bem o que queria: não pretendia que finalizassem na primeira tentativa, mas que pegassem o rebote e fizessem o gol no segundo lance. Não consegui fazê-los entender as instruções. Se tivesse  explicado  melhor  que  devíamos  buscar  sempre  o  rebote,  acho  que teríamos passado à final…”, lamenta-se.” – trecho retirado do livro Guardiola Confidencial, de Marti Perarnau

Nunca vamos saber se caso Hernán Crespo e Gabriel Batistuta estivessem juntos em campo a história teria sido diferente, talvez neste caso sim, pois tratavam-se de dois exímios finalizadores, inteligentes e de enorme ímpeto físico. Mas os números falam que é melhor povoar a área e buscar pela segunda bola.  Dar a isca ao adversário, fazer ele se preocupar em tirar o cruzamento, enquanto o seu objetivo, na verdade, é o rebote. Guardiola notou a importância da “segunda bola” quando chegou ao City e chegou a falar sobre conceito típico, uma espécie de cultura inglesa pelo rebote. O que Guardiola não sabia é que o rebote não é uma cultura, e sim, uma circunstancia do jogo aonde quer que ele seja jogado.

crespo

 

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