OS DRAGÕEZINHOS DE OURO

O futuro do futebol está nos pés das nossas crianças. Em Portugal, continua em evidência a nova fornada de talentos que nasceram nos finais do século XX e/ou no começo do novo milénio. A conquista de títulos expressivos demonstra a qualidade do ‘’produto’’ português, que dá cartas nos últimos tempos. Após dois títulos europeus de […]

O futuro do futebol está nos pés das nossas crianças. Em Portugal, continua em evidência a nova fornada de talentos que nasceram nos finais do século XX e/ou no começo do novo milénio. A conquista de títulos expressivos demonstra a qualidade do ‘’produto’’ português, que dá cartas nos últimos tempos.

Após dois títulos europeus de Portugal nas seleções sub-17 e sub-19, o FC Porto foi o primeiro time português a vencer a Liga Jovem da UEFA – prova equivalente a uma Liga dos Campeões no futebol de formação. Para isto contribuiu um elenco jovem (em relação ao escalão, sub-19), mas recheado de encantos. Olhando os anos de nascimento, somente 3 jogadores desse plantel não poderão jogar no próximo ano. Os restantes ainda estarão em idade selecionável para figurarem na prova em 2019/20.

Diogo Leite e Diogo Queirós na conquista da U23 – Premier League International Cup

O eixo desta equipe tem 3 líderes que compartilham do mesmo nome. Há quem fale num triângulo. O Triângulo dos ‘’Diogos’’. Costa, Leite e Queirós. O goleiro e os dois patrões da zaga. Se engane aquele que pensou em líderes psicológicos. Aliás, também são, pois passam uma mensagem corporal de firmeza. Mas acima de tudo, são líderes técnicos. Antes eram um quarteto, mas Diogo Dalot rumou a Manchester.

Diogo Costa, que ostenta uma boa colocação entre as traves, saída segura e aptidões nos duelos 1v1, esteve presente nas conquistas européias de Portugal sub-17 e sub-19, assim como Diogo Queirós, capitão deste Porto. Diogo Leite também poderia ter os três troféus no currículo, mas falhou os sub-19 por estar com o elenco principal. Juntos sofreram apenas 6 gols (5 na fase de grupos) e protagonizaram grandes momentos defendendo a área com alto poder de antecipação, velocidade para compensar companheiros e até imperando dentro da área. Os atributos de Leite sobressaem na dupla (incluindo com bola), mas Queirós consegue ser regular nos seus acertos.

Quem não conhecia o historial dos pilares deste Porto sub-19, diria que impressiona o à vontade com que estiveram em situações de adversidade. Na verdade, até continua impressionando, pois são atletas de 19/20 anos, mas com grande imponência nos seus comportamentos.

A defesa foi composta por dois laterais que garantiram boa sustentação defensiva e marcaram diferenças com bola. Tomás Esteves teve mais protagonismo nas suas ações, pois revelou capacidades de apoiar bem o ataque, revelando qualidades no jogo interior com boas tomadas de decisão. Ainda que tenha 17 anos feitos em Abril, é mais um lateral direito que se prevê juntar a João Cancelo, Nélson Semedo, Ricardo Pereira, Diogo Dalot…

Ángel Torres, Diogo Leite, Diogo Queirós, Tomás Esteves e Fábio Vieira.

Há sua frente foram protegidos e comandados por Mor Ndiaye. O senegalês foi um dos mais regulares no torneio e apresenta qualidades de um jogador completo. Além de todas as vantagens físicas, Ndiaye possui um bom senso de cobertura, mas o maior destaque vai para os atos com bola. O 6 foi o 1º homem de ligação no meio-campo portista, deixando precisão nos primeiros passes, que desestruturavam o adversário. Até por Fábio Vieira e Romário Baró apresentarem características mais agressivas, nos momentos de cadenciar a posse, Ndiaye foi sempre o mais lúcido.

Falando nos interiores azuis e brancos, a sua vertigem no ataque à baliza são denominadores comuns. Fábio Vieira tem uma bela chegada a zonas de finalização. A sua agressividade com bola é tamanha, que tem tendência a visar sempre o gol, mesmo quando as condições não são tão favoráveis. Já Romário Baró, talvez o melhor jogador da competição, tem um variado leque de qualidades para jogar livre, mas marcando diferenças, essencialmente, no que faz nas entrelinhas se movimentando com e sem bola. São dois jogadores bastante pautados pelos momentos afrontosos em fase defensiva, pelo que procuram equilibrar a equipe através da agressividade e pressão na bola. A verdade é que, contrariando todo o estereótipo do jogador africano (somente físico e emocionalmente permeável), tanto Mor Ndiaye como Romário Baró, são os dois elementos mais cerebrais desta equipe. Ou pelo menos, aqueles que mais são donos do jogo.

As alas são compostas por Ángel Torres e João Mário. O colombiano é portador de um físico avantajado, que depois usa como arma nas suas explosões pelo corredor lateral, aliando ainda uma boa técncia de controle de bola. Contudo, terá que limar as suas tomadas de decisão. Já João Mário é uma ameaça profunda constante, seja carregando bola ou atacando espaço vazio.

A cereja no topo do bolo é Fábio Silva, o mais novo. Somente 16 anos, mas uma relação de adulto com o jogo. Diria que um atacante estilo Romário. Daqueles que não oferece grande participação direta na criação de jogo da equipe, mas sempre que a bola lhe chega, transforma os lances em ouro. A forma como recebe o esférico, orientando para finalizar e como executa a finalização, é fora de série. Além disso, uma personalidade vincada. Provavelmente o maior talento da formação do Porto depois de Rúben Neves.

Fábio Silva.

Este Porto tem nos seus ‘’miúdos’’, diamantes brutos prontos a lapidar, pelo que não seria necessário vencer esta prova para entendermos isso (ou então não). Misturado à qualidade acima da média de muitos dos seus jogadores, a preparação do seu treinador em cada jogo permitiu que vencessem a Liga Jovem da UEFA com tamanha autoridade.

Mário Silva, nas fases de mata-mata, procurou sempre adaptar o seu sistema defensivo em função do adversário, anulando os pontos fortes rivais, mas nunca retirando aquilo que caracteriza o modelo de jogo da sua equipe: futebol espontâneo e fazendo uso da liberdade criativa dos seus melhores intérpretes, vertical (não direto) e agressivo no ataque à área com ameaças vindas de todos os corredores.

Houve algo que sempre acompanhou este Porto nas suas ideias sem bola: defender, maioritariamente do tempo, com um bloco médio no campo, mas com intenções de pressionar alto aquando visualizava fragilidades na construção adversária. A base foi um 4-1-4-1 com a cobertura entrelinhas de Mor Ndiaye, sendo Romário Baró o elemento que mais vezes saltava à pressão.

Frente ao Tottenham, organização defensiva em 4-4-2, mas no seu ataque posicional, estrategicamente, Mário Silva quis explorar as dificuldades dos Spurs para controlarem a amplitude, atacando no sistema clássico do WM (3-2-5). Saída a 3 com Ndiaye entre os zagueiros, Romário Baró e Fábio Vieira conectando setores no meio-campo, extremos flutuaram para dentro perto de Fábio Silva e laterais profundos no campo, oferecendo apoios exteriores.

O mesmo 4-4-2 foi repetido frente ao Midtjylland, com Baró junto de Fábio Silva na primeira linha de combate, que depois se transformava em 4-3-3 em fase ofensiva, baixando Baró para interior em tarefas de criação. Novamente uma forma ‘’mutante’’ de abordar o jogo. Nas semi-finais, diante do Hoffenheim, Mário Silva espelhou o sistema do conjunto alemão, utilizando uma linha de 5 defendendo no próprio campo. Ndiaye recuava entre os zagueiros em muitos momentos para ajudar a contrariar o jogo direto e algumas referências individuais na marcação, com laterais pegando quem dava amplitude.

Além de toda esta hibridez de sistemas táticos, tivemos outro tipos de aspetos que demonstraram estudo ao adversário. Na final contra o Chelsea, Mário Silva pediu aos seus jogadores que realizassem um trabalho específico em cima dos dois principais construtores dos blues, fazendo com que os ingleses entrassem em bloqueio. Por isto, os londrinos não conseguiram sequer ativar os seus ataques furtivos pelas alas (após os minutos iniciais) e permitiu ao Porto ser superior durante 90% da partida.

O Porto é um clube que não tem sabido administrar da melhor forma a utilização dos seus talentos. Ainda assim, após sucessivas campanhas positivas e do surgimento de jogadores acima da média, é esperado um plano de integração na equipe principal para estes jovens. Alguns destes jogadores têm muitos minutos em competições profissionais, pois jogam na equipe B do Porto, na II Divisão portuguesa. Daí, talvez, podemos entender a explicação para as respostas tão desenvolvidas num torneio de formação.

Da resiliência de Diogo Costa, do imperialismo de Diogo Queirós, do majestoso Diogo Leite, da destreza de Tomás Esteves, da fineza de Tiago Lopes, da chefia de Mor Ndiaye, da irreverência de Fábio Vieira, da criatividade natural de Romário Baró, da ameaça constante de João Mário, da explosão de Ángel Torres, do talento bruto de Fábio Silva, da preparação de Mário Silva… o futebol português vai de vento em popa na sua formação.

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