O surgimento de Quaresma e a recuperação de Edwards em Portugal
Apostando cada vez mais em jovens, a liga portuguesa tem dois nomes que já chamam atenção de todos: Eduardo Quaresma e Marcus Edwards
A Liga NOS teve o seu retorno na última quinta-feira, 3 de junho, após a pandemia que assolou a humanidade. O futebol luso nos brindou com partidas movimentadas e resultados surpreendentes para os três grandes, que não conseguiram vencer seus adversários, embolando a tabela com gosto.
É possível observar uma tendência cada vez maior pela utilização de jogadores jovens na retomada desses campeonatos. Na Alemanha, você tem o exemplo de Florian Wirtz no Leverkusen, Mateu Morey no Borussia Dortmund e Jessic Ngankam no Hertha Berlin, que ganharam suas primeiras chances após o surto.
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Em Portugal, que possui um campeonato cuja tradição de utilizar jogadores jovens já é reconhecida, esse número aumentou especialmente por conta do Sporting, que apresentou Eduardo Quaresma, 18 anos, e Matheus Nunes, 21 anos, pela primeira vez com a equipe principal na partida contra o Vitória de Guimarães na retomada.
Esse duelo foi bastante simbólico, porque do outro lado, vestindo as cores do Vitória de Guimarães, estava Marcus Edwards, 21 anos, que fora contratado pelos Conquistadores junto ao Tottenham em setembro de 2019. Um jogador que soma 28 partidas na temporada com sete gols e sete assistências, tendo, inclusive, marcado contra o Sporting no empate por 2×2 na quinta-feira.
O encontro de Eduardo Quaresma, que pela primeira vez fora titular, com Marcus Edwards, que já era titular, é a ilustração perfeita de como o futebol pode ser arriscado quando se trata de prospecção de jogadores. O sportinguista é taxado como o “novo Patrão” da defesa, enquanto o vitoriano recebeu o apelido de “Mini Messi” de Mauricio Pocchetino quando ainda estava no Tottenham. A trajetória de Quaresma é acompanhada de perto por vários analistas especializados em futebol de base, principalmente pela assombrosa qualidade técnica. Esse era o mesmo caso de Edwards, que antes de ser chamado de “Mini Messi”, era a prima-dona da academia dos Spurs.
Se antes a procura pelas jovens promessas já era feroz nas grandes ligas, a utilização agora será maior devido ao rombo que muitas equipes tiveram com a paralisação dos campeonatos. Os gastos serão menores, sobretudo nas equipes emergentes ou endividadas nesses campeonatos, independente da liga a qual pertence.
Esse é praticamente o caso do Sporting, que além de não conseguir ser competitivo contra os dois rivais, também passou por momentos conturbados na parte financeira e também na esfera criminal, com o ataque aos jogadores e staff do clube em Alcochete, em 2018. Tirando Bruno Fernandes, parecia que nada dava certo no clube.
Voltando ao assunto principal, após mais um carnaval de emoções durante a temporada, o Sporting resolveu apostar na juventude. A começar por Rúben Amorim, que até três anos atrás era jogador profissional, assumiu o controle da equipe técnica, sendo o terceiro a comandar os Leões na temporada. Com um trabalho incrível à frente do Braga, Amorim, de 35 anos, chegou a Alvalade mediante um pagamento de €10 milhões.
Amorim não titubeou em chamar os jovens para resgatar a temporada para o Sporting. Com apenas dois jogos no comando, sendo o segundo nesta partida contra o Vitória, em Guimarães, o antigo meio-campista lançou mão, especialmente, de Eduardo Quaresma, a joia que todos ansiavam ver.
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Foi necessária apenas uma partida para Quaresma encher os olhos dos adeptos leoninos. O defensor mostrou seu cartão de visitas com uma atuação segura, apesar do placar de 2×2. Jogando no sistema 3-4-3 pelo lado direito da linha defensiva, o jovem português conseguiu bloquear as jogadas diretas do Vitória, mesmo sendo um zagueiro relativamente baixo para os parâmetros europeus (1,85m). Além disso, Quaresma foi o jogador com mais ações com a bola (92), mais passes (80), mais interceptações (4), recuperou SETE posses de bola e criou uma grande chance.
O menino das passadas largas também já atuou como volante nas categorias de base. Isso explica a facilidade do defensor em conseguir passes progressivos e precisos. Ao contrário da grande maioria dos zagueiros que possuem uma alta porcentagem de acerto nos passes, porém, com muitos desses passes sendo para o goleiro ou até para o companheiro de zaga, Eduardo procura muito o passe adiante, acelerando a transição defesa-ataque. São passes arriscados, por isso requer muita confiança. Além disso, o português também é muito bom lançando a bola.
Afora os números, o zagueiro mostrou habilidades físicas e mentais importantes visando uma sequência na equipe titular de Amorim. Quaresma ostentou sua velocidade para acompanhar os extremos do adversário, além de ganhar duelos pelo alto, e um posicionamento impecável na cobertura, criando uma pequena ilha pelo lado direito onde nada acontecia sem seu consentimento.
Ter atuado numa linha de três foi uma sacada inteligente de Amorim para a estreia de Quaresma. Por se tratar de um jovem, que poderia sentir naturalmente o peso da estreia, e por ser um jogador de 1,85m, ter o aporte de Coates na sobra facilitou na adaptação do jogo. Posteriormente, o português deve ser testado numa formação com linha de quatro, e aí poderemos mensurar com mais propriedade a seriedade desse prospecto.
Entretanto, a exibição do garoto contra o Vitória foi gigante, numa partida em que substituiu Tiago Ilori, cujo nome causa arrepios no torcedor sportinguista. Aliás, Ilori um dia já foi taxado de pérola, mas o tempo acabou sendo cruel com as expectativas criadas ao seu redor. Com passagem por Alcochete na formação, Ilori rumou ao Liverpool e depois acabou por rodar por outras várias equipes.
Assim como esse recorte do passado, o Sporting vê na figura de Quaresma um assédio muito grande por equipes maiores que querem contratar o garoto recém-estreado. Será que ele renova? Será que ele alça voos maiores mesmo com tão pouca idade? O ideal é sempre ficar, sobretudo num cenário favorável como é o Sporting nesse momento para o atleta.
Essas questões também foram levantadas quanto a Marcus Edwards no passado. Antes do “Mini Messi” acontecer, o inglês, que atua tanto como um extremo-invertido (ele é canhoto, então geralmente é escalado na direita com o intuito da finalização) ou como um extremo-esquerdo convencional. Assim como Quaresma, existia um hype elevadíssimo acerca de seu nome devido aos grandes jogos protagonizados nas equipes juniores do Tottenham e da seleção inglesa. Todavia, Edwards nunca chegou perto de fazer parte do plantel principal dos Spurs, apesar da alcunha dada por Pochettino após a única partida do jovem pela equipe titular num jogo de Copa contra o Gilligham.
Edwards sempre foi um prodígio para sua idade muito por conta do refinamento técnico. Com 18 anos ele já era titular da equipe reserva dos Spurs, que era basicamente formada por jogadores com contratos profissionais. Ele foi emprestado duas vezes, uma para o Norwich e outra para o Excelsior. O aspecto franzino sempre foi uma desvantagem para que Edwards não entrasse nos planos do clube londrino. Infelizmente, é compreensível, porque o nível atlético exigido na Premier League beira o absurdo. Muitos “Mini Messis” não conseguiram fazer a transição no campeonato inglês.
Após boa participação com o limitadíssimo time do Excelsior, na Eredivisie, Edwards foi cedido ao Vitória de Guimarães de graça. No entanto, o Tottenham ainda detém uma porcentagem para uma futura venda do clube português. Ao lado de Pepê, o inglês lidera os Conquistadores na Liga NOS, sendo cotado inclusive para o Porto na próxima temporada.
Veloz, driblador, finalizador e com controle de bola incrível, Marcus Edwards rompe os gramados portugueses no mesmo estilo de outrora, da época das camadas inferiores da Inglaterra. Você percebe o refinamento técnico do atleta pela maneira como ele conduz a bola, sendo efetivo e capaz de driblar em alta velocidade, além de manter o equilíbrio para evitar a perde de posse. Hoje, ele é o jogador com mais dribles bem-sucedidos da liga, com uma média de 57% de acerto, superando Rafa Silva, do Benfica, que é nacionalmente famoso pelo futebol artístico. Fora de Portugal, Edwards foi destaque na caminhada do Vitória na Europa League, tendo marcado contra o Arsenal e Eintracht Frankfurt, ambos em partidas fora de casa.
Provavelmente a estadia de Edwards em Guimarães será curta. Longe das comparações exageradas, o inglês consegue mostrar o porquê de tanta excitação com seu potencial.
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Apelidos e comparações podem ser nocivos quando se analisa um jogador. Alguns sobrevivem e justificam tais argumentos. Outros, muitas vezes sem culpa, acabam ficando para trás. Quaresma está prestes a entrar num mundo completamente novo e infinitamente cruel. O potencial técnico é gigante, mas cabe a ele e ao clube trilhar um caminho seguro. Quanto a Marcus Edwards, a torcida por uma joia é contínua. Ao que parece, ele não está disposto a desistir. Muito pelo contrário, ele parece evoluir mesmo refutando uma comparação irresponsável de seu antigo treinador.
Felizmente o campeonato português voltou e, a partir de agora, a chance de ver esses jovens com regularidade aumentou. Para o bem do futebol, esperamos que eles continuem evoluindo.
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