NO SANTOS, SAMPAOLI CONQUISTA MAIS DO QUE VITÓRIAS

Por Caio Alves Iniciada em janeiro, o Santos já possui, na temporada, eliminações para o Corinthians, no Campeonato Paulista, River Plate-URU, na Copa Sul-Americana, e – a mais atual – para o Atlético-MG, pela Copa do Brasil. Além disso, soma doloridas derrotas e goleadas sofridas por Botafogo-SP, Ituano e Palmeiras, atual líder do Campeonato Brasileiro. […]

Por Caio Alves

Iniciada em janeiro, o Santos já possui, na temporada, eliminações para o Corinthians, no Campeonato Paulista, River Plate-URU, na Copa Sul-Americana, e – a mais atual – para o Atlético-MG, pela Copa do Brasil. Além disso, soma doloridas derrotas e goleadas sofridas por Botafogo-SP, Ituano e Palmeiras, atual líder do Campeonato Brasileiro. Todos esses fatores, porém, são tratados como consequência ante o desempenho invejável que Jorge Sampaoli foi capaz de aplicar em sua nova equipe.

Após conturbada passagem pela Argentina na Copa do Mundo – seu país de origem –, o treinador de 59 anos precisava, além de paz, reencontrar as vitórias que suas ideias sempre foram capazes de trazer. No Santos, Sampaoli conseguiu muito mais.

Até a temporada passada, o Santos, com Jair Ventura, era uma equipe desequilibrada. Ao tentar se desprender do rótulo reativo que lhe foi aplicado no Botafogo, Jair acabou não conseguindo dar um padrão ao time. O mesmo ocorreu com Levir Culpi, visto que seu time era totalmente inofensivo atacando e um tanto quanto frágil defendendo a área. Ainda houve Cuca, que chegou a evoluir o trabalho por alguns meses, mas que desligou-se do clube ao término da temporada.

Em 6 meses de comando, a média de números por partida falam por si só. A posse de bola é predominantemente sua (sendo 62.31%), os 475.21 passes certos assustam e os 1.5 gols explicam porquê apenas 5 times do Brasileirão possuem saldos superiores ao seu. É de se destacar, inclusive, uma equipe que empilha a média de 15.26 chutes, além de 15.8 passes por minuto.

Adepto ao jogo mais posicional, o argentino potencializou atletas como Alison, Diego Pituca e Jean Mota, além de contratar Éverson, Felipe Aguilar e Yeferson Soteldo, jogadores que trazem características importantes para a implementação de seu modelo. No Brasileiro, a equipe valoriza a posse de bola, mas mostra-se extremamente vertical durante as partidas. A saída de bola – executada com dois zagueiros e o volante, enquanto todo o resto posiciona-se em campo adversário – é elaborada e paciente, mas basta ultrapassar a linha do meio-campo para observar os jogadores alternando setores e buscando, através de triangulações e passes curtos, o gol de modo constante. Muito por isso, o Santos oferece predominância quando o assunto é gol através de ataques rápidos (de 11 gols no campeonato, 5 foram desta maneira mais objetiva).

Por outro lado, é importante ressaltar que nem só de acertos a equipe se resume. O setor defensivo, que costuma atuar constantemente com a linha na altura do meio-campo, demonstra certa desconexão com o ataque. Ao mesmo tempo em que a média de gols mostra-se alta, o mesmo se pode dizer dos gols sofridos. Das 34 partidas disputadas em 2019, 28 gols foram concedidos, computando média de 0.86 por jogo. Apesar de não ser das médias mais preocupantes do Campeonato Brasileiro, a parte defensiva é um fator delicado para um treinador que busca diminuir as qualidades do adversário.

“Quanto mais gente compreender, mais divertido será” [Fernando Dantas/Gazeta Press]
“Quanto mais gente compreender, mais divertido será” [Fernando Dantas/Gazeta Press]
Jorge Sampaoli usa a posse como um meio, e não como um fim. É apaixonado pela bola e busca tê-la constantemente para sofrer poucos danos defensivos, mas prefere verticalizar as jogadas para matar o adversário da forma mais letal e rápida possível. Acima de qualquer coisa, o Santos é um time intenso. Soteldo, Eduardo Sasha, Pituca, Carlos Sánchez e Jean Mota figuram entre os jogadores que mais geraram gols para a equipe, provando tamanha versatilidade em campo.

Justamente por esses argumentos, Anita Efraim, jornalista da Rádio Globo, explicou a forma como Sampaoli fez com que o seu pai, Isaac, de 62 anos, voltasse a assistir o Santos diretamente do estádio – seja ele o Pacaembu ou a Vila Belmiro.

Por nunca ter sido um torcedor frequente nas arquibancadas, Isaac Efraim não se importava em apoiar uma equipe que pouco garantia resultados. Apenas em dois momentos o Santos o conquistou: sob a tutela de Pelé e no surgimento da dupla Neymar Júnior e Paulo Henrique Ganso. Na época, aliás, chegou a cometer a loucura de ir ao Barradão, em Salvador, acompanhar a decisão da Copa do Brasil de 2010, contra o Vitória. Mal sabia ele que Sampaoli, 9 anos após, seria responsável por fazê-lo levantar do sofá e apreciar seu clube nas tardes de domingo.

Anita, com 24 anos, já acompanhou diversas fases do Santos. Sempre presente no estádio, confessa que Sampaoli é o principal responsável pelo atual momento do clube: “Quando a gente torce para um time treinado pelo Jair Ventura e passa para um técnico tipo o Sampaoli, é impossível você não ficar mais satisfeito. Eu acho que muda tudo. Muda a tolerância que você tem com eliminações e derrotas, muda a visão do futuro. Porque, com o Jair Ventura, eu não desejava que o Santos tivesse um futuro. Hoje, eu desejo que o Santos consiga se classificar para uma Libertadores no Campeonato Brasileiro para ele poder fazer um trabalho de longo prazo e ter resultados melhores”.

Para ela, o Santos não pode se contentar com pouco. “O Santos tem que jogar como o Santos joga em qualquer lugar que for, dentro ou fora da Vila Belmiro. Ao mesmo tempo que tem esse tipo de situação constrangedora (de levar de 4 do Palmeiras, de 5×1 do Ituano), tem a situação que você vai até à Arena do Grêmio e ganha. Em que no Castelão, com 60 mil pessoas na torcida do Ceará, no dia que o Ceará faz aniversário, de pé em pé o Santos consegue o gol. No jogo contra o Mirassol (pelo Campeonato Paulista), que o Santos jogou com o time reserva, foi 1×0, no último minuto de jogo foi tocando de pé em pé até conseguir chegar no gol.”

Ao contrário do que é visto com os treinadores, muitos jogadores são considerados ídolos mesmo não conquistando títulos, e Anita exalta a atitude: “Eu acho que um exemplo que a gente tem dessa não necessidade de título para marcar época é o Giovanni. O Giovanni não ganhou nenhum título no Santos e todo mundo fala dele até hoje”.

No Brasil, o resultado, muitas vezes, supera o andamento de promissores processos. Para Sampaoli, vencer sem desempenhar não basta: “Se for para ganhar de qualquer jeito, a gente vai com o revólver e mata o adversário”. E isso resume bem o que o argentino pensa sobre futebol.

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