Guia do Brasileirão 2020 - Fortaleza
O Campeonato Brasileiro 2020 está prestes a iniciar, por isso o Footure reuniu sua equipe e analisou as 20 equipes que disputam o torneio nesta temporada em parceria com as redes sociais do Brasileirao. Por ordem alfabética, o décimo primeiro do Guia tem foco no Fortaleza
O trabalho de Rogério Ceni no Fortaleza representa um oásis no Nordeste por ser o mais longevo (desconsiderando a rápida saída para o Cruzeiro), desenvolver atletas individualmente e exprimir um nível coletivo alto de execução. Mesmo com a pressão pelos resultados e a reverberação exacerbada no futebol brasileiro, que é inerente a profissão, Ceni não se deixa afetar e mantém-se firme aos ideais que lhe fizeram escolher por essa profissão.
Nas 130 partidas que comandou o Fortaleza, Rogério Ceni só repetiu a escalação em três oportunidades. O que demonstra que a planificação dos jogadores tem uma relação direta com as virtudes e fragilidades do elenco e a estratégia a ser adotada para vencer o oponente. Nesta temporada, Ceni tem adotado uma política de rodar o elenco para que não haja saturação muscular e consiga deixar todos em boa condição de jogo.
A escolha pelas plataformas 4-2-3-1 e 4-4-2 é pautada nas características individuais de cada atleta e como as combinações setoriais e intersetoriais impactarão no jogo coletivo.
A ARTICULAÇÃO DE FELIPE E JUNINHO E A IMPETUOSIDADE DE YURI CÉSAR
No meio-campo, Rogério tem dado mais minutos à Felipe e Juninho. Os dois volantes possuem como maior virtude: o passe. Ambos participam da organização ofensiva da equipe em diferente alturas do campo. Sempre fazendo a bola rodar e esperando o momento certo para verticalizar o passe.
A formação de atletas no Fortaleza é algo que está passando por um processo de transformação estrutural e de metodologia. Rogério Ceni tem liderado e se empenhado para que o Leão do Pici, consiga formar atletas com excelência e de maneira continuada. Não à toa, nota-se a ausência de jogadores provenientes das categorias de base. Com a exceção do goleiro Max Walef, que foi alçado aos profissionais em 2014.
Com isso, abriu-se espaço para a prospecção regional e nacional de jogadores com idade sub-20 de clubes que possuam expertise em formação de base. E a contratação do ponta-esquerda, formado nas categorias de base do Flamengo, e emprestado ao Fortaleza, foi um dos pedidos do técnico Rogério Ceni para reforçar o ataque.
Na segunda etapa dos jogos ou na ausência de Osvaldo, a presença do jovem Yuri César é frequente. O camisa 57 em 6 jogos, mais precisamente 266 minutos, marcou 4 gols pelo Campeonato Cearense e Copa do Nordeste. Além do faro de gol, Yuri César, se destaca pela mobilidade, dribles em situações de mano a mano e boa recomposição.
COMO ATACA O FORTALEZA
Ao realizar a saída de bola, o Fortaleza posiciona 3 jogadores com relativo espaço entre eles e tendo outro vindo de frente para a bola, montando a figura geométrica do losango. Com isso, o goleiro Felipe Alves tem no mínimo três opções de passes (zagueiros abertos e volante de frente).
E essa saída de bola do Fortaleza tem dois momentos: o primeiro quando a organização ofensiva começa na própria área, o objetivo é empurrar o adversário para o próprio campo e dar tempo dos demais jogadores ocuparem os espaços predefinidos. E isso ocorre através da criação de linhas de passe e giro da bola entre corredores.
Já quando ocorre uma marcação alta com encaixes bem ajustados impostas pelo adversário, há por parte de Felipe Alves a busca de passes em diagonal curta ou longa para que os oponentes corram para trás da linha da bola, e assim, o Fortaleza ganhe campo para avançar.
No segundo momento, em uma faixa mais alta do campo e mais próximo a linha de meio-campo, a finalidade é causar desorganização, acelerar o jogo e finalizar. A participação de Felipe Alves ainda é frequente, mas outros dois jogadores também se fazem presente e dividem esta responsabilidade: Felipe e Juninho.
O camisa 5 e 15, são organizadores natos, sempre orquestrando a equipe de frente e escolhendo o momento certo para acelerar o jogo com um passe por dentro ou em diagonal. Essa organização ocorre de forma alternada, uma vez que, enquanto um está base da jogada o outro ocupa a entrelinha.
O Fortaleza é um verdadeiro caos organizado. Rogério Ceni adota um ataque posicional e geralmente ataca com sete jogadores. Os dois laterais em amplitude (bem abertos e próximos a linha lateral) no terço final de campo, atacantes ocupando a faixa central e o espaço entre o zagueiro e lateral adversário, com um volante – ou até mesmo o zagueiro – encostando por trás como opção de passe de retorno.
COMO DEFENDE O FORTALEZA
Ao perder a posse de bola no campo ofensivo, por ter 7 jogadores participando das ações de ataque, o comportamento natural é de rapidamente virar a chave e realizar a pressão pós-perda. No entanto, a pressão realizada não tem tanta efetividade por ser realizada de forma “isolada”. Isto é, a pressão no portador da bola é feita de forma individual. E dessa forma facilita a retirada da bola da zona de pressão. E como sabe-se, correr para trás é muito difícil.
E diante de tal exposição, os jogadores apresentam dois comportamentos: temporizar e defender zonas centrais. A temporização tem como objetivo tirar a velocidade do ataque adversário e dar tempo para que haja a recomposição. Aliada a temporização, ocorre a ocupação da faixa central de campo. Com isso, a equipe procura induzir o oponente para o lado afim de afastá-lo da própria meta.
No entanto, a equipe fica exposta às transições ofensivas adversárias por não apresentar movimentos coletivos de pressão pós-perda no ataque: pressing. O Fortaleza recupera pouco a bola em linha alta e sobrecarrega o setor defensivo.
Em organização defensiva, Rogério Ceni, assim como boa parte dos técnicos no mundo, adota uma marcação mista. Ou seja, os jogadores “encaixam” nos adversários no momento em que entram em zonas pré-definidas e o acompanham até o final da jogada ou até o limite do espaço coberto. Nesta dinâmica defensiva, o Fortaleza se estrutura no 4-4-2. Esta plataforma permite uma boa distribuição e equilíbrio. O que facilita a flutuação da equipe em função da bola e as ações de cobertura.
Em linhas baixas, o Leão do Pici se compacta em 25 metros e posiciona-se entre 5 e 10 metros à frente da área com o objetivo de estreitar o campo, tirar tempo e espaço de quem está com a bola, forçar o erro ou uma bola longa imprecisa. E caso essa bola longa aconteça, a última linha está preparada. Basta observar o posicionamento corporal. Olhando para a bola, em atenção e pronta para correr para trás.
DIFICULDADE CONTRA ADVERSÁRIO QUE ATUAM EM BLOCOS BAIXOS
Como toda e qualquer equipe, o Fortaleza não está imune ao erro de execução e a baixa produtividade. E as dificuldades ocorrem naturalmente ao se deparar com um oponente que exige um nível de concentração mais alto que o habitual ou que a marcação é mais forte e requer maior mobilidade e intensidade no passe. Ou até mesmo quando o gramado não favorece a aplicação do que fora treinado.
E no retorno ao futebol, no Campeonato Cearense diante do Guarany de Sobral e pela Copa do Nordeste diante do Sport, ficou nítida a dificuldade de superar equipes que atuam em bloco baixo, negando espaço por dentro e realizando rápido balanço defensivo – equipe em bloco se movimentando horizontalmente para o setor da bola.
Rogério Ceni terá que aperfeiçoar ainda mais os treinos para superar o antídoto criado pelos seus adversários para frear o seu jogo.
LEIA A ANÁLISE DOS OUTROS CLUBES
Athletico Paranaense; Atlético Goianiense; Atlético/MG; Bahia; Botafogo; Ceará; Corinthians; Coritiba; Flamengo; Fluminense; Goiás; Grêmio; Internacional; Palmeiras; Red Bull Bragantino; Santos; São Paulo; Sport Recife e Vasco da Gama.
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